Estados viram reticências na reforma previdenciária
Num instante em que o Senado conclui a tramitação da reforma da Previdência, é preciso chamar atenção para as reticências. O que são as reticências? Elas são usadas na linguagem escrita para marcar a interrupção de um raciocínio, a supressão de informações, a insinuação de algo que fica subentendido. Estados e municípios viraram as reticências da reforma previdenciária, aqueles três pontinhos que aparecem no final das frases incompletas.
Desavenças políticas entre deputados e governadores impediram que a Câmara incluísse os servidores de estados e municípios na reforma. Decidiu-se que o Senado corrigiria o problema. Para evitar que a íntegra do texto tivesse que retornar à Câmara, os senadores optaram por enfiar a encrenca dentro de uma emenda constitucional paralela.
Engordada com penduricalhos que ofuscam o essencial, essa PEC paralela deveria tramitar junto com o texto principal. Mas ficou para depois. Ainda que passe na Comissão de Constituiçao e Justiça nesta semana, não chegará ao plenário do Senado antes de novembro. Se for enviada à Câmara, o destino mais provável da PEC paralela será o gavetão dos assuntos pendentes. Não há boa vontade dos líderes para aprovar a proposta.
A exclusão de estados e municípios transforma a mexida previdenciária numa reforma Saci-Pererê. Falta uma perna. Resolve o problema da União por algum tempo. Todos sabem que a solidez dos cofres administrados por governadores e prefeitos é uma lenda que vai explodir como realidade nas arcas do Tesouro Nacional. Ainda assim, mesmo conhecendo a magnitude do problema, os congressistas tratam esse pedaço da reforma como os três pontinhos que, na gramática, sinalizam as coisas incompletas.
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