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Josias de Souza

Queiroz virou um elefante na sala dos Bolsonaro

Josias de Souza

24/10/2019 18h31

Queiroz segue atuante e oferece cargos em áudio, diz jornal

UOL Notícias

O primogênito Flávio Bolsonaro, protegido por uma superblindagem do Supremo Tribunal Federal, percorre os corredores e os gabinetes do Senado como se nada tivesse sido descoberto sobre ele. Imaginou-se que a sobreposição de escudos —um fornecido por Dias Toffoli, outro por Gilmar Mendes— seria suficiente para esconder Fabrício Queiroz. O problema é que Queiroz se move com a sutileza de um elefante. E não há desafio mais ingrato do que esconder um elefante.

A voz do elefante soou num áudio de WhatsApp. Coisa recente, de junho. Nele, Queiroz parece dedicar-se à sua especialidade: a rachadinha. "Tem mais de 500 cargos lá na Câmara e no Senado", declara o elefante. "Pode indicar para qualquer comissão", sem vincular à família Bolsonaro. Expressando-se num idioma parecido com o português, o elefante acrescenta: "Vinte continho pra gente caía bem pra caralho".

O elefante ensina o caminho das pedras: "O gabinete do Flávio faz fila de deputados e senadores…" Basta dizer: "Nomeia fulano aí, para trabalhar contigo aí, salariozinho bom, pra a gente que é pai de família, cai como uma uva." Não há no áudio menção a mérito ou currículo. Fica claro que o salário não iria para o contratado. Cairia "como uma uva" nas mãos de algum "pai de família."

O áudio contém uma notícia boa e outra ruim. A boa notícia é que o Queiroz, que muitos imaginavam estar moribundo, passa muito bem. A má notícia é que a saliência do elefante transforma Flávio Bolsonaro numa espécie de pavio esperando pela autorização do Supremo para virar uma chama. E faz do discurso de Jair Bolsonaro em favor dos bons costumes um palavrório enferrujado.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.