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Josias de Souza

Mãe Joana controla redes sociais de Bolsonaro

Josias de Souza

29/10/2019 19h57

As páginas de Jair Bolsonaro nas redes sociais transformaram-se em sucursais eletrônicas da Casa da Mãe Joana. A foto é do presidente da República. Mas a caligrafia dos posts frequentemente é de Carluxo. O filho Zero Três compra brigas nas quais ele entra com os punhos —ou com os dedos— e seu pai entra com a cara. O vídeo que retrata Bolsonaro como um leão, rei das selvas, cercado por hienas é apenas a penúltima tolice. Logo virão outras.

Há menos de duas semanas, Carluxo pedia desculpas por ter postado nas redes do pai uma frase de apoio à prisão na segunda instância. Soou como pressão sobre o Supremo, que julga ações relacionadas ao tema. Agora, Bolsonaro se desculpa pelo vídeo que inclui a Suprema Corte entre as hienas que assediam o leão redentor. Celso de Mello lembrou que Bolsonaro não é monarca e o Brasil não é uma selva. De repente, o leão rugiu como um gatinho desde a Arábia Saudita, onde se encontrava.

O problema não está nas mensagens que saem no Twitter, no Facebook ou no Instagram do presidente. O mais dramático é perceber que os pedidos de desculpas não apagam o que está gravado na cabeça dos Bolsonaro. Carluxo apenas traduz, com seu português quase sempre precário, o que a família pensa. O presidente e seus filhos acreditam mesmo que são protagonistas de um projeto de salvação nacional, obrigados a lidar com inimigos inescrupulosos e instituições apodrecidas.

Sob influência de Mãe Joana, Bolsonaro acha que Carluxo é um gênio do meio virtual. Embora esteja perto de completar um ano de governo, o presidente ainda não se deu conta de dois detalhes. Um, a diferença entre a genialidade e a estupidez é que a genialidade tem limites. Dois, pode-se ganhar uma eleição pelas redes sociais, mas não se pode governar apenas com elas.

Na campanha, bastava chutar o balde para ganhar votos. Agora, num instante em que os áudios de Fabrício Queiroz avisam que a probidade de membros da primeira-família está encostada em liminares do Supremo, descobre-se que há baldes que não convém chutar

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.