Toffoli crê em fim da prescrição e em Papai Noel
O jogo que levará ao fim da prisão na segunda instância, como se sabe, está jogado. Escalado pelo destino para proferir o voto que consolidará o histórico gol contra, Dias Toffoli tenta atenuar a corrosão de sua imagem atraindo o Congresso para o lance. Em carta às presidências da Câmara e do Senado, sugeriu que o Legislativo modifique o Código Penal para impedir a prescrição dos crimes atribuídos aos bandidos que recorrerão em liberdade ao STJ e ao STF.
A correspondência de Toffoli carrega nas entrelinhas duas revelações incômodas. Numa, o ministro admite que a mudança na regra sobre prisão restaurará o cenário que leva à prescrição de crimes e, em consequência, à impunidade. Noutra revelação, mais inquietante do que a primeira, o presidente do Supremo Tribunal Federal sinaliza que acredita em fantasias. É como se, depois dos 50 anos, Toffoli alardeasse sua crença em Papai Noel.
Tudo bem, pois alguém que acredita que um Congresso apinhado de culpados e cúmplices será capaz de fechar a saída de emergência da prescrição pode acreditar em qualquer alucinação. Toffoli deveria inclusive enviar para o bom velhinho uma cópia da carta que endereçou a Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre.
Para azar de Toffoli, o brasileiro tornou-se um sujeito cético. Sabe distinguir as coisas. Já não confunde conversa mole com com profundidade, pose com densidade, cumplicidade com neutralidade, compadrio com moralidade, omissão com habilidade. O brasileiro já não confunde Supremo com divindade.
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