Medo da luz impediu Bolsonaro de desarmar crise
Jair Bolsonaro soube que seu nome aparecera no inquérito sobre a morte de Marielle Franco 20 dias antes da divulgação da novidade em horário nobre, no Jornal Nacional. O próprio presidente disse ter sido informado pelo governador do Rio, Wilson Witzel, numa festa de aniversário, em 9 de outubro. Bolsonaro poderia ter tomado providências para acomodar a encrenca em pratos limpos. Optou pelo breu. Agora, faz por pressão o que deixou de fazer por opção.
Foi à vitrine o depoimento de um porteiro. Ele contou à polícia civil do Rio que, no dia do assassinato de Marielle, um suspeito de participar do crime entrou num condomínio para visitar um comparsa. Nessa versão, o suspeito alegou na portaria que iria à casa de Bolsonaro, localizada no mesmo condomínio. O porteiro disse ter obtido pelo interfone autorização do "seu Jair" para a entrada do suspeito. Mas Bolsonaro estava na Câmara, em Brasília. Portanto, há uma incongruência grave no depoimento.
À luz dos fatos conhecidos, seria uma leviandade insinuar que Bolsonaro está envolvido no caso Marielle. Sobretudo depois que uma promotora do Ministério Público do Rio, Simone Sibílio, disse, nesta quarta-feira, que o porteiro mentiu. Agora, é preciso saber o porquê da alegada mentira. Do mesmo modo é tola a acusação do presidente de que a Globo divulgou a notícia porque deseja destruir o seu governo. Nos bastidores, as principais autoridades sabiam de tudo —ministros do Supremo, o procurador-geral, o governador do Rio e o próprio presidente. Só a sociedade desconhecia que o nome de Bolsonaro consta do inquérito sobre a morte de uma vereadora. Agora, todos sabem. E é bom que seja assim.
Por mal dos pecados, essa novidade represada foi despejada sobre a conjuntura num instante em que Fabrício Queiroz, o policial militar que trabalhou com os Bolsonaro, envia pelo WhatsApp sinais de que se considera abandonado. Queiroz é um elo entre a primeira-família e milicianos. Seria muito bom se Bolsonaro aprendesse com o episódio atual o valor da claridade. Em política, não há segredo que sempre dure nem blindagem que nunca se acabe. É preciso acender a luz. Só a luz pode evitar o pus.
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