Capitão é parte do problema do PSL, não solução
Jair Bolsonaro decidiu traduzir em percentuais a crise que produziu no PSL. Disse que a probabilidade de deixar o partido é de 80%. E estimou em 90% a chance de fundar uma nova legenda. Insiste na tese da transparência na gestão do fundo partidário. "Eu pago a conta sobre qualquer desvio de um terceiro no partido", declarou Bolsonaro, insinuando novamente que o presidente do PSL, Luciano Bivar, não é confiável.
O mesmo Bolsonaro que fala grosso com Bivar preside um governo que mantém no Ministério do Turismo Marcelo Álvaro Antônio. O dirigente do partido e o ministro têm algo em comum. Pilhados no escândalo do laranjal do PSL, estão encrencados com a Polícia Federal e o Ministério Público —Bivar em Pernambuco, Marcelo Antônio em Minas Gerais. Bolsonaro já declarou que Bivar "está queimado pra caramba". Por isso, quer se livar dele. Mas não se incomoda em conviver com o ministro do Turismo, que também está bem tostado.
Surge, então, o depoimento à Polícia Federal de Gustavo Bebianno, que presidiu o PSL durante a campanha eleitoral como homem de confiança de Bolsonaro. Ex-ministro palaciano, Bebianno disse à Polícia que Bolsonaro avalizou em 2018 o acordo que previa o repasse de 30% da verba do fundo eleitoral do partido para o diretório de Pernambuco, controlado por Bivar. Nessa época, Bolsonaro dava as cartas no partido, por meio do preposto Bebianno. E não parecia preocupado com desvios que terceiros pudessem praticar.
Passada a eleição, o comando do partido foi devolvido por Bebianno, o preposto de Bolsonaro, a Bivar —exatamente como fora negociado. Vitaminado pelo bom resultado as urnas, o PSL dispõe agora de uma caixa registradora milionária. E Bolsonaro briga para retomar o controle. Bivar resiste. Nesse contexto, Bolsonaro se torna um político autossuficiente. Ele mesmo avaliza o rateio da verba, ele mesmo levanta a suspeita de desvio, ele mesmo perdoa um dos acusados. De repente, grita "pega ladrão". E ameaça sair correndo para outra legenda. Não faz nexo.
Embora se esforce para encenar a pose de solução, Bolsonaro é parte do problema do PSL.
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