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Josias de Souza

Paulo Guedes aprende a fazer política na marra

Josias de Souza

06/11/2019 22h37

Paulo Guedes vive uma experiência inusitada. Embora seja ministro da Economia, ele recebe em Brasília um curso intensivo de política. O Posto Ipiranga chegou à cidade como um silvícola que se preparava para uma guerra pintando a cara com as tintas da virilidade. Em novembro do ano passado, ainda na fase de transição de governo, o ministro sonhava em dar "uma prensa" no Congresso para aprovar rapidamente a reforma da Previdência.

Em junho, quando a Câmara promoveu os primeiros ajustes na proposta do governo, o ministro declarou que os deputados iriam "abortar a nova Previdência". Continuava pintado para a guerra. Agora, Paulo Guedes suaviza o timbre. Reconciliando-se com a sensatez, ele negociou pontos de sua reforma do Estado antes de fechar as propostas. E passou a pronunciar frases equilibradas. "Ministro da Economia que disser que tem algum ponto inegociável não está preparado para o exercício da democracia", ele afirmou

Isso é uma obviedade. Não se imagina que o governo conseguirá aprovar uma reforma do estado tão abrangente quanto essa que está agora sobre a mesa na marra, sem muita negociação. Mas há pessoas em Brasília que às vezes não enxergam o óbvio. Jair Bolsonaro, por exemplo, com seu talento para produzir crises, costuma esbarrar no óbvio, tropeçar no óbvio e passar adiante, sem desconfiar de que o óbvio é o óbvio.

Há um descompasso entre a área econômica e os setores do governo dedicados à operação política. O general Luiz Eduardo Ramos, atual coordenador político do Planalto, é um ministro respeitável. Mas os parlamentares não enxergam nele um negociador credenciado pelo presidente da República.

Espera-se que Jair Bolsonaro arregasse as mangas. Mas por enquanto ele se dedica a estilhaçar o PSL, seu partido, apagar o incêndio que levou o filho Eduardo Bolsonaro ao Conselho de Ética da Câmara como protagonista de pedidos de cassação de mandato e selecionar o próximo general a ser levado à frigideira. Resta a Paulo Guedes bater o escanteio e correr para cabecear a bola na grande área.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.