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Josias de Souza

Veja fatores que condicionam reforma do Estado

Josias de Souza

06/11/2019 00h46

O governo acomodou em três propostas de emendas constitucionais e um projeto de lei a maior reforma já concebida do Estado brasileiro. A aprovação desse pacote econômico que Jair Bolsonaro entregou ao Congresso não será rápida nem simples —2019 está terminando e 2020 é ano eleitoral. De resto, o destino do pacote está condicionado a dois fatores: o 'fator fundo do poço' e o 'fator imponderável'. O primeiro conspira a favor. O outro, contra.

Os congressistas exercem seus mandatos sob o efeito do fim da ilusão de que o fundo do poço poderia ser infinitamente adiado. A tragédia econômica promovida por Dilma Rousseff eliminou a sensação de que o governo e o sistema político permaneceriam numa espécie de beira de abismo eterna. Dilma proporcionou ao país a vivência do abismo. Daí o efeito fundo do poço. Os atores políticos são intimados a agir. As reformas deixaram de ser uma opção.

A reação começou ainda sob Michel Temer. Mas o governo Temer bateu no iceberg do grampo do Jaburu antes de aprovar a reforma da Previdência. O medo que a família Bolsonaro tem das investigações que envolvem o primogênito Flávio Bolsonaro e o PM Fabrício Queiroz indicam que pode haver novos icebergs no caminho. Significa dizer que o pacote do ministro Paulo Guedes, cujas linhas gerais são corretas, não está livre de se chocar com o imponderável.

Paulo Guedes ajustou sua estratégia. Antes, o ministro passava a impressão de que queria jantar os políticos. Agora, ele janta com deputados e senadores. Aproveitou sugestões de congressistas, especialmente de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, os presidentes da Câmara e do Senado. De resto, atraiu a simpatia de governadores e prefeitos ao acenar com a hipótese de enviar para estados e municípios algo como R$ 400 bilhões em 15 anos. O ministro recolocou a bola no chão. Resta agora torcer para que o desejo de retirar o país do fundo do poço prevaleça sobre o imponderável.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.