Brasília não é o lugar para Guaidó se estabelecer
Invasão ou ocupação? Pouco importa. Não é preciso recorrer a um grande esforço de reflexão para perceber que não havia para o governo brasileiro senão a opção de zelar para que a embaixada da Venezuela fosse restituída à equipe credenciada pelo governo do ditador Nicolás Maduro.
Embora o governo de Jair Bolsonaro tenha reconhecido a legitimidade do autoproclamado presidente venezuelano, a presidência paralela de Juan Guaidó é uma ficção. Quem controla o Estado na Venezuela, goste-se ou não, é o ditador Maduro. Ponto!
O Brasil é signatário da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas. E deve prover às representações estrangeiras instaladas no país a mesma segurança que exige para as embaixadas do Brasil no exterior.
Tudo isso parece óbvio. Mas o óbvio, sob Bolsonaro, demora a ser reconhecido. Há sempre um filho empoleirado no caixote das redes sociais para provlemar que o óbvio não é o óbvio. O deputado Eduardo Bolsonaro, o quase-embaixador, apressou-se em postar que a ocupação da embaixada da Venezuela por partidários de Guiadó é "o certo, o justo." Ai, ai, ai.
A manifestação destrambelhada do Zero Três forçou o Gabinete de Segurança Institucional, do general Augusto Heleno, e o próprio presidente a se manifestarem em sentido inverso. Mas a demora em tomar providências deixou o governo brasileiro em posição constrangedora diante dos chefes de Estado dos países do Brics, que visitam Brasília.
Excetuando-se o Brasil, nenhuma das letras que compõem a sigla enxerga legitimidade em Guaidó. Ao contrário, duas delas —Russia e China— apoiam com vigor a ditadura de Nicolás Maduro.
Preferências à parte, não é hora para brincadeiras. Num instante em que fervem as ruas do Chile, Equador e Bolívia, não convém ao Brasil permitir que grupos rivais da Venezuela transformem o Brasil em Casa da Mãe Joana. O local correto para que a presidência paralela de Juan Guaidó se converta em poder oficial é o Palácio de Miraflores, em Caracas, não o prédio da embaixada, em Brasília.
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