PT trama para Bolsonaro uma realidade de Dilma
Reunido no seu 7º Congresso Nacional, em São Paulo, o Partido dos Trabalhadores lançará as bases daquilo que a presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, chamou de "a mais firme oposição ao governo Bolsonaro". Baseia-se na política da histeria.
Deseja-se proporcionar ao capitão um ambiente de fim de mundo semelhante ao que resultou na derrocada de Dilma Rousseff —com asfalto cheio e temperatura em alta. Trata-se do caminho mais fácil para o PT. É também o caminho errado.
Atear fogo ao quadro político é o caminho mais fácil porque dispensa o PT de fazer uma autocrítica. É errado porque mantém o partido acorrentado à rotina criminal de Lula. E não há na praça material, combustível e disposição política para um novo impeachment.
A ficha do PT demora a cair. Mas o partido vem perdendo espaço na preferência do eleitorado desde 2010. Lula prevaleceu em 2002 e 2006 com 61% dos votos válidos. Em 2010, Dilma foi enviada ao Planalto com 56%.
Em 2014, Dilma passou raspando na trave, com 52%. E foi enviada mais cedo para casa. Na sucessão de 2018, com Lula na cadeia, Fernando Haddad obteve 44,8% dos votos válidos. O antipetismo ajudou a eleger Bolsonaro, com 55% dos votos.
As urnas encolheram o PT, reduzindo-o às dimensões que ostentava em 1989, quando Lula amealhou 47% dos votos válidos, perdendo para Fernando Collor de Mello, com 53%.
O eleitor parece cobrar do PT, em prestações, a fatura dos mensalões, dos petrolões e da gestão empregocida de Dilma. Tudo isso tem a ver com Lula, pois os escândalos têm raízes fincadas nos seus dois mandatos.
É de autoria de Lula também a lenda segundo a qual Dilma seria uma supergerente. Vem daí o fato de que o lulismo que empurrou Haddad para o segundo turno de 2018 tornou-se um fenômeno menor do que o antipetistmo que elegeu Bolsonaro.
Desde que saiu da cadeia, há duas semanas, Lula dedica-se desconstruir o governo. Disse que Bolsonaro governa para milicianos. Tachou Paulo Guedes de exterminador de sonhos. Chamou Sergio Moro de canalha. E instou o povo a ir às ruas, como no Chile.
Em entrevista veiculada na edição da Folha desta sexta-feira, Gleisi Hoffmann, a presidente do PT, acrescentou que a legenda adotará uma retórica "radical" contra o governo "Tem que ser um discurso ofensivo, para falar com o povo que está sofrendo."
"O governo tem que sentir que tem pressão popular", declarou Gleisi. "Não tem que ter medo de povo nas ruas." Certos trechos da entrevista flertam com a comédia. Por exemplo: "O povo está esperando de nós um posicionamento firme. O povo quer trabalho, quer renda, quer condições de vida."
Sem perceber, Gleisi disse que o povo deseja tudo o que o PT retirou dele durante o governo empregocida de Dilma, de quem a entrevistada foi ministra da Casa Civil.
É óbvio que, a um partido de oposição, cabe pintar o governo como o pior possível e embaraçar-lhe os passos. Entretanto, quando esse partido tem um grande passado pela frente, convém não abusar da inteligência alheia.
Para continuar sonhando com o retorno, o PT precisaria reconquistar a simpatia do eleitorado de classe média.
O problema é que o pedaço conservador do eleitorado, que acreditou na Carta aos Brasileiros —aquele documento em que Lula renegou o receituário radical que o impedia de chegar ao Planalto— tomou-se de ojeriza pelo petismo.
Curiosamente, o PT se esforça para convencer esse eleitorado de classe média a fazer do seu adversário em 2022, seja ele quem for, o candidato favorito a tornar-se o próximo presidente da República.
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