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Josias de Souza

Juíza que enquadrou Lula pode ser enquadrada

Josias de Souza

26/11/2019 05h10

O caminho que liga o anonimato à glória é longo e tortuoso. Ao julgar Lula no caso do sítio de Atibaia, a juíza Gabriela Hardt tomou um atalho. Copiou sem ler trechos da sentença de Sergio Moro referente ao caso do tríplex. A magistrada descobre agora que o caminho de volta é bem mais rápido.

Há um ano, quando Lula ameaçou conturbar uma audiência de inquirição, a doutora Hardt enquadrou-o: "Senhor ex-presidente, isso é um interrogatório. Se o senhor começar neste tom comigo a gente vai ter problema." (reveja no vídeo acima). Nesta quarta-feira (27), a magistrada pode ser enquadada pelo TRF-4.

Aquilo que deveria ser uma nova condenação de Lula num tribunal de segunda instância virou uma anulação esperando para acontecer. Num processo apinhado de provas, a juíza serviu-se da técnica juvenil do "copia e cola" sem o cuidado de ler o que estava copiando. Chamou sítio de "apartamento".

Na pior das hipóteses, os desembargadores do TRF-4 anulam a sentença de 12 anos e 11 meses de cadeia que a juíza impôs a Lula. E o processo recomeça do zero.

Na melhor das hipóteses, o TRF-4 atrasa o relógio apenas até a fase das alegações finais. Nessa hipótese, os desembargadores cumpririam ordem do Supremo sobre réus delatados e delatores, oferecendo ao dedurado a oportunidade de falar por último no processo, depois dos dedos-duros.

Em qualquer hipótese, Gabriela Hardt sai de cena menor do que entrou. No momento, seu prestígio cabe numa caixa de fósforos. E ela já não dispõe da possibilidade de retornar ao anonimato pleno. Condenou-se à pena perpétua de frequentar o verbete da enciclopédia como um vexame.

A boa notícia é que a pose de inocente que Lula desfila pela conjuntura continua sendo uma fraude. As provas ainda estão lá, no interior do processo, à espera de que o juiz Luiz Antonio Bonat, substituto de Sergio Moro, elabore uma nova sentença condenatória.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.