Surge petista que prefere sair da água a afogar-se
Quando Lula deixou a cadeia, em 8 de novembro, o PT lidava com dois problemas: o excesso de lama e a carência de rumo. Decorridos 36 dias desde a abertura da cela de Curitiba, o PT continua imerso em lodo. Mas já dispõe de um rumo. Sob os efeitos da raiva que Lula injetou na conjuntura, o partido tomou a direção do brejo.
Em entrevista à Folha, o governador petista da Bahia, Rui Costa, sugeriu caminhos diferentes: Lula e o PT precisam "pregar a pacificação do país", declarou. É necessário "aproximar as posições gerais do partido de desafios concretos da economia e da sociedade". Falou em "ajuste fino", em "refinamento" de posições.
Instado a comentar a aversão da bancada do PT na Câmara ao projeto que regula a participação da iniciativa privada no setor de saneamento básico, o governador tomou as dores dos cerca de 100 milhões de brasileiros que não dispõem de uma privada em casa.
"Onde vamos buscar recursos para tirar o pobre de viver sem esgoto, em lugares alagados ou ficar sem água? O governo e os estados não têm como ofertar. É evidente que precisamos usar o instrumento da parceria público-privada, do capital privado, para levar água e esgoto à população".
Rui Costa proclama o óbvio. Mas o óbvio e o PT são coisas inconciliáveis. O mesmo Lula que beijou a cruz da Carta aos Brasileiros para virar presidente em 2002 agora afugenta a classe média com sua ficha suja e seu discurso radical. Numa conjuntura que pede moderação, a divindade petista operou para reconduzir a incendiária Gleise Hoffmann ao comando partidário.
Ninguém se afoga por cair na água, mas por permanecer lá. Rui Costa soou como se preferisse sair da água. O diabo é que, para chegar à margem, teria de se livrar do abraço de afogados.
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