Horário político tem mistificação, não informação
Teve início nesta terça-feira o horário político eleitoral, aquele período do dia em que o brasileiro foge da televisão durante 50 minutos —metade de manhã, a outra metade à noite, atrasando o início da novela. Foram ao ar os primeiros programas dos candidatos à Presidência da República. Disseram coisas definitivas sem definir as coisas. Quem assistiu voluntariamente à procura de informações decepcionou-se. Como de hábito, as campanhas pobres são feitas de indigência. Nas ricas, a matéria-prima é a mistificação.
Dilma Rousseff e Aécio Neves deram especial atenção à economia. Como se sabe, a economia compreende todas as atividades do país. Mas nenhuma atividade do país compreende a economia tal como ela foi apresentada na propaganda governista de Dilma. Na peça, a crise é 100% internacional. E o governo impediu que ela entrasse porta adentro da casa dos brasileiros.
A crise invadiu o bolso, na forma de uma inflação de 6,5%. Mas essa é outra história. Invadiu também as fornalhas da indústria, apagando-as. Lula entregou para Dilma uma economia crescendo a 7,5%. Hoje, o PIB roda abaixo de 1%. Não somos uma ilha, justificou a propaganda de Dilma. Por isso, a crise também nos afetou. E "reduziu um pouco o nosso ritmo de crescimento." Mas não há de ser nada. Lula, que vendera Dilma como gestora infalível em 2010, jura que o segundo mandato será bem melhor. Ah, bom!
Na sua publicidade, Aécio prescreveu doenças, não remédios. A inflação já está aí de novo, batendo na sua porta, entrando na sua casa, disse o candidato. Na economia, o Brasil parou de crescer… Os empregos começam a desaparecer. O Brasil, que vinha bem, que vinha avançando, perdeu o rumo.
O que fazer? Bem, tem outro jeito de governar, diz o candidato. Basta gastar menos com o governo e mais com as pessoas. Lindo. Mas é empulhação, como demonstra o repórter Gustavo Patu: nos últimos anos, a quase totalidade da escalada das despesas federais está vinculada às "pessoas" que se beneficiam de programas sociais.
A marquetagem de Dilma dispõe de boa quantidade de minutos —o triplo do tempo de Aécio. Por isso, não faltaram ao programa os truques já tradicionais no trabalho do marqueteiro João Santana: horizontes luminosos, sobrevoos cinematográficos, obras públicas e fábricas fervilhando e um interminável etcétera.
Cruzando-se a publicidade de Aécio com a de Dilma verifica-se com quantos lugares-comuns se faz uma originalidade. As duas equipes de marketing recorreram ao mesmo tipo de recurso. Num simulacro de transmissão ao vivo, brasileiros filmados em diferentes partes do país acompanham o discurso de Aécio e a execução do jingle de Dilma (repare no vídeo lá do alto). No mundo dos comerciais eleitorais, como no resto da política, nada se cria, nada se transforma, tudo se conspurca.
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