Aécio contrapõe à emoção de Marina o ‘preparo’
Premido pela inesperada entrada em cena de Marina Silva, Aécio Neves começa a ajustar o discurso. Antes, do alto dos 20% que o Datafolha lhe atribui, o tucano praticamente ignorava Eduardo Campos e seus 8%. Agora, vê-se na contingência de se contrapor a Marina, que entrou na briga com 21%. Foi o que tentou fazer neste sábado, em Salvador.
O presidenciável tucano disse ter "um respeito enorme por Marina". Porém, ecoando aliados que enxergam falta de "densidade" e de "preparo" na substituta de Eduardo Campos, Aécio apresentou-se como uma opção mais segura de mudança. "Temos um conjunto de projetos amplamente discutidos com a população, que são os melhores para o Brasil. E ninguém tem um time mais qualificado para executá-los, para que o Brasil possa sonhar com um futuro melhor."
Aécio lançou na capital baiana o projeto 'Nordeste Forte'. Estava rodeado de lideranças políticas tradicionais da região. Alguns dos aliados ajudaram o candidato no esforço de desconstrução de Marina. Eis o que disse, por exemplo, o grão-tucano cearense Tasso Jereissati, que tenta retornar ao Senado:
"Marina virou santa. Com a exposição que teve no enterro de Eduardo, e que continua tendo na mídia, nem o Papa Francisco. Quando ela voltar para o nível dos mortais, vamos ver como fica o quadro. Agora tem que ter muito cuidado e trabalhar muito."
Também candidato ao Senado, o peemedebista Geddel Vieira Lima insinuou que a atmosfera emocional que se formou em torno de Marina pode não resultar em boa coisa:
"A Emoção isolada nunca é boa conselheira na hora de tomar decisões fundamentais. Toda vez que me curvei à emoção desenfreada do meu temperamento para tomar decisões, equivoquei-me. É bom manter agora a racionalidade. E a única candidatura racional nesse momento é de Aécio."
No mesmo diapasão, Aécio procurou realçar que não basta sonhar. Os projetos têm de estar conectados com a realidade. "Vamos sonhar todos juntos, mas nós é que temos as melhores condições de transformar o sonho de milhões de brasileiros em realidade, com um governo honrado, decente e eficiente", discursou.
De resto, Aécio cutucou a nova rival num ponto sensível: a ética. Acredita que, do mesmo modo que teve de dar explicações sobre a construção de um aeroporto na cidade mineira de Cláudio, Marina terá de explicar as dúvidas sobre a propriedade do avião que era usado na campanha por seu ex-companheiro de chapa.
"Todos os homens e mulheres públicos têm que estar preparados para responder sobre tudo, a qualquer tipo de indagação. Esse é um problema que o PSB vai ter que responder", provocou Aécio, levantando uma bola que Tasso Jereissati cuidou de chutar: "Se o caso do avião pegar em Eduardo, pega em Marina também."
De passagem por Recife, onde realizou, também neste sábado, seus primeiros atos de campanha, Marina foi indagada sobre o caso do avião. Absteve-se de responder. Preferiu passar a palavra para o seu vice, o deputado federal Beto Albuquerque, do PSB gaúcho.
"Quem comprou, quem vendeu não é problema nosso, mas dos proprietários da aeronave", esquivou-se Beto, mudando de assunto: "O que queremos saber é o que ainda não foi explicado: como caiu esse avião que matou o nosso líder e como não tinha nada gravado na caixa preta." Militantes do PSB puseram-se a gritar: "sabotagem".
Mais cedo, do alto de um caixote, Marina discursara para uma plateia pernambucana, ainda ressentida pela morte de Eduardo Campos. Disse que nem Aécio Neves nem Dilma Rousseff podem ganhar a eleição. A vitória não será deles, mas da superestrutura partidária, do tempo de elástico e das alianças incongruentes. No dizer de Marina, a vitória dela será o triunfo da sociedade. Como se vê, o jogo recomeçou.
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