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Josias de Souza

Dilma insinua que falta ‘experiência’ para Marina

Josias de Souza

24/08/2014 21h06

Dilma Rousseff refutou neste domingo a tese de Marina Silva segundo a qual o Brasil precisa de um líder na Presidência, não de uma gerente. Atribuiu o comentário à falta de experiência administrativa. "Não é uma questão de ser gerente ou não, isso é uma visão tecnocrática, o presidente é executor. Ele não é pura e simplesmente um representante do poder", disse Dilma. Sem citar Marina, ela ironizou: "o pessoal está confundindo o presidente da República com rei ou rainha."

Ao criticar Marina, Dilma bateu indiretamente no seu padrinho político. Quando assumiu a Presidência, em 2003, Lula não tinha nenhuma experiência administrativa. E Marina afirmara que presidentes como Itamar Franco, FHC e o próprio Lula exerceram a liderança pessoal para melhorar o país. Acrescentara que Dilma, vendida como gerente, piorou o país. Eu não quero ser uma mera gerente, afirmara Marina, em reunião com os presidentes dos partidos que a apoiam.

Os repórteres instaram Dilma a comentar a decisão do ex-diretor preso da Petrobras Paulo Roberto Costa de firmar com a Procuradoria da República um acordo de delação premiada. E ela: "O Brasil e nós todos temos de aprender que se pessoas cometeram erros, malfeitos, crimes, atos de corrupção, isso não significa que as instituições tenham feito isso."

Para Dilma, a eventual condenação de Paulo Roberto não significará a condenação da empresa. "A Petrobras é muito maior que qualquer agente dela, que seja diretor ou não, que cometa equívocos, crimes…" Nesse ponto, a presidente tem razão. O preso foi nomeado em 2003, sob Lula. Indicado pelo PP, achegou-se ao PT e ao PMDB. Mandou e, sobretudo, desmandou na diretoria de Abastecimento da estatal até 2012, já sob Dilma. Ou seja: a culpa não é da Petrobras, mas dos governantes que patrocinaram a ocupação predatória da estatal.

Pendurada nas manchetes de ponta-cabeça, a Petrobras ainda não foi integralmente dedetizada. Por sorte, Dilma considera-se uma experiente gestora. Se der lições a si mesma, talvez consiga higienizar a estatal antes do final do ano.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.