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Josias de Souza

Toma-lá-dá-cá: ‘Já escolhem ministros do PSB’

Josias de Souza

12/10/2014 06h34

Roberto Amaral, o presidente do PSB, chutou o pau da barraca. Em carta aberta, ele escancarou a guerra pelo comando da legenda, aderiu à candidatura de Dilma Rousseff e insinuou que o apoio da maioria dos seus correligionários a Aécio Neves guia-se pelo fisiologismo:

"Em momento crucial para o futuro do país, o debate interno do PSB restringiu-se à disputa rastaquera dos que buscam sinecuras e recompensas nos desvãos do Estado", escreveu Amaral. "Nas ante-salas de nossa sede em Brasília já se escolhem os ministros que o PSB ocuparia num eventual governo tucano."

Amaral rodou a baiana em texto divulgado no sábado (11), a poucas horas da entrevista marcada por Marina Silva para informar, neste domingo, que rumo irá tomar no segundo turno da eleição. Ele perdeu as estribeiras após constatar que o partido deve apeá-lo da presidência, em reunião marcada para esta segunda-feira.

Enquanto Amaral levava o destampatório ao ar em seu site pessoal, Aécio recebia em Pernambuco o apoio da viúva e dos filhos de Eduardo Campos. Depois, em ato público, o presidenciável tucano divulgou uma carta comprometendo-se a acatar parcialmente as exigências "programáticas" que Marina fizera para apoiá-lo.

Formalizado na quinta-feira, num encontro da Executiva do PSB, o apoio a Aécio foi qualificado por Roberto Amaral como um "suicídio político-ideológico." Conhecido por seus vínculos com o petismo, Amaral votara contra Aécio e Dilma, a favor da neutralidade da legenda. Perdeu. A grossa maioria preferiu associar-se a Aécio.

Pois bem. Agora, na bica de ser arrancado da presidência do partido, um posto que assumira por força das contingências —era vice quando morreu o titular, Eduardo Campos—, Amaral atravessa o Rubicão de volta, para cair nos braços da candidata petista: "Sinto-me livre para lutar pelo Brasil com o qual os brasileiros sonhamos, convencido de que o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff é, neste momento, a única alternativa para a esquerda socialista e democrática."

Considerando-se que Amaral foi ministro de Lula (Ciência e Tecnologia) e conselheiro de estatal sob Dilma, deve-se concluir que, tolas ou oportunistas, as ideologias que coabitam o PSB dançam e rebolam, movem-se de um lado para o outro. Mas continuam sempre a reboque de um velho e bom organograma funcional.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.