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Josias de Souza

Para PSDB, confiança do TSE é muito suspeita

Josias de Souza

31/10/2014 04h36

Há no Brasil 142.822.046 eleitores aptos a votar. Desse total, foram às urnas no segundo turno da eleição presidencial 112.683.879 almas. Houve 1.921.819 votos em branco e 5.219.787 nulos. Restaram 105.542.273 votos válidos. Desses, 54.501.118 (51,64%) foram para Dilma Rousseff. Seu rival Aécio Neves arrastou 51.041.155 (48,36%). Com 3.459.963 votos a mais, Dilma prevaleceu sobre Aécio, reelegendo-se. E os brasileiros foram cuidar do seu feijão com arroz.

De repente, decorridos quatro dias, o PSDB de Aécio protocolou no Tribunal Superior Eleitoral um pedido de "auditoria especial" do resultado do pleito. O tucanato esclarece na petição que não põe em dúvida a lisura da apuração e o trabalho da Justiça Eleitoral. Em nota, o partido enfatizou: "Temos absoluta confiança de que o TSE cumpriu seu papel, garantindo a segurança do processo eleitoral."

Uma pessoa apressada poderia perguntar: se o PSDB confia na correção do TSE, por que diabos deseja auditar as urnas? Um observador mais sofisticado compreenderá os tucanos. Pode existir alguma coisa mais suspeita do que uma conduta absolutamente irrepreensível? Pois é. O PSDB reiterou sua "confiança na Justiça Eleitoral".  Mas a turma da internet levou o pé atrás.

O PSDB anotou em sua petição: "Nas redes sociais, os cidadãos brasileiros vêm expressando (…) descrença quanto à confiabilidade da apuração dos votos e à infalibilidade da urna eletrônica, baseando-se em denúncias das mais variadas ordens." É para tranquilizar a militância virtual que o PSDB pede uma auditoria. Bom, muito bom, ótimo. Há mesmo muita coisa estranha no ar.

Por exemplo: a eleição ocorreu em outubro. Trata-se de um mês que está assentado no calendário bem perto de outros dois meses suspeitíssimos. Como explicar que o 11º mês e o 12º mês do ano se chamem NOVEmbro e DEZembro?

Não é só: na última terça-feira (28), ao proclamar o "resultado parcial" das urnas, o TSE designou ministros para conferir os dados. Os Estados foram subdivididos em grupos e repartidos por sorteio.

O ministro Gilmar Mendes vai aferir os dados de quatro Estados: Amazonas, Alagoas, São Paulo e Tocantins. Seu colega Luiz Fux passará em revista as informações de Minas, Espírito Santo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. E assim sucessivamente… Só depois dessa revisão geral é que ocorrerá uma "proclamação oficial" do resultado das eleições.

Tanta checagem só poderia mesmo despertar essa onda de desconfiança que o PSDB detectou nas redes sociais. De novo, pode ter algo mais suspeito do que uma conduta assim, digamos, absolutamente irrepreensível?

O TSE ainda não deu uma resposta ao pedido de auditoria formulado pelo PSDB. Enquanto espera, o partido talvez devesse realizar uma auto-auditagem. Olhando-se no espelho, os tucanos poderiam perguntar a si mesmos: num instante em que 7 em cada 10 eleitores desejavam mudanças, como a maior legenda de oposição conseguiu reeleger uma adversária que representava a continuidade?

Refinando a auto-investigação, o PSDB poderia perseguir uma segunda resposta: como Aécio Neves, o príncipe das Minas Gerais, foi capaz de ser  derrotado no seu principado pela mineira-gaúcha Dilma Rousseff? Se encontrar respostas para essas questões, o tucanato talvez retire o pedido de auditoria que protocolou no TSE.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.