Dilma exige de ministros lealdade dos partidos
Dilma Rousseff mandou dizer aos ministros que conta com a lealdade dos seus respectivos partidos nas votações que interessam ao governo no Congresso, especialmente as relacionadas ao ajuste fiscal. Segundo o relato de um dos contatados, o alerta soou como uma espécie de aviso prévio. Ficou subentendido que a permanência na Esplanada está condicionada à fidelidade das bancadas.
Não se trata propriamente de uma novidade. No Brasil pós-redemocratização, a eficiência administrativa nunca foi o objetivo primordial das composições ministeriais. Nomeiam-se os ministros politicamente mais rentáveis, não os mais eficientes. O extraordinário no aviso que parte do Planalto é a sinalização da definitiva rendição de Dilma ao modelo —dessa vez sem escrúpulos ou reticências éticas.
A presidente pode surpreender-se negativamente. Sempre que uma nova gestão se inicia, os maus presságios tendem a evaporar. Ainda que o governo seja, em verdade, um velho reciclado, a reeleição funciona como senha para reinícios alvissareiros. O tilintar de verbas e cargos atrai como um imã. Mas Dilma respira uma atmosfera de fim de feira. Nunca um governo começou tão por baixo.
A vitória de Eduardo Cunha na disputa pela presidência da Câmara, contra o lobby explícito de meia Esplanada em favor de Arlindo Chinaglia, mostrou que as bancadas dos partidos governistas desligaram os seus ministros da tomada. Falta-lhes o prestígio e os meios necessárias ao restabelecimento das conexões.
Dilma tentará fazer uma ligação direta. Nesta semana, a presidente inicia um ciclo de conversas com líderes de legendas aliadas. Com o alarme da impopularidade tocando ao fundo, ela talvez perceba que a resistência aos seus ajustes é maior do que imagina.
O ajuste fiscal pode sair. Mas será necessário gastar mais do que saliva. As medidas sofrerão remendos. E o apoio dos aliados custará mais caro. Supremo paradoxo: para reequilibrar os gastos, gasta-se.
A elevação do fisiologismo à condição de princípio de Estado torna dispensáveis articuladores políticos como o precário ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais). Não há muito que dialogar. Basta que o ministério de reféns grude na lapela de cada parlamentar o código de barras correspondente.
Não é um processo asséptico. Mas quem prestou atenção ao mensalão e ao petrolão já deve ter notado que a governabilidade não é limpinha.
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