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Josias de Souza

Pepe Vargas virou peça decorativa no Planalto

Josias de Souza

02/03/2015 03h46

Titular da pasta das Relações Institucionais, o ministro Pepe Vargas (PT-RS) deveria ser o articulador político de Dilma Rousseff. Desde que assumiu o desafio, em 1º de janeiro, não conseguiu expor aos aliados do governo no Congresso um itinerário. Como o poder não tolera a impotência, seu colega Aloizio Mercadante (Casa Civil) assumiu o volante. E Pepe virou um articulador ornamental.

Nos dois meses iniciais do segundo mandato de Dilma, o nome de Pepe foi anotado na agenda oficial da presidente uma mísera vez, no dia 9 de janeiro. E não foi para uma conversa a sós, mas para uma reunião da qual tomaram parte também os ministros Mercadante e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência).

Lula costuma dizer que o coordenador político de um governo tem prazo de validade curto. Com Pepe, o desgaste veio na velocidade de um raio. Principal sócio do empreendimento governista, o PMDB desligou-o da tomada. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, chama-o de trapalhão. O comandante do Senado, Renan Calheiros, o ignora.

No momento, a prioridade do Planalto é azeitar no Congresso a votação das medidas provisórias que compõem o esforço fiscal do governo. Na semana passada, a equipe econômica —Joaquim Levy (Fazenda), Nelson Barbosa (Planejamento) e Alexandre Tombini (Banco Central)— jantou com o PMDB. Dilma providenciou para que Mercandate acompanhasse a troica, não Pepe.

Um emissário de Dilma foi conversar com Eduardo Cunha na residência oficial da presidência da Câmara. De novo, a missão foi confiada a Mercadante, não a Pepe. Entre todos os 39 ministros, Mercadante é o que mais vira a maçaneta da sala de Dilma.

Afora as conversas extra-oficiais, Mercadante apareceu na agenda da presidente sete vezes em dois meses. Colados nele, vêm os ministros Nelson Barbosa (Planejamento), com cinco audiências; e Joaquim Levy, com quatro.

Por ora, o vaivém do governo apenas acrescentou descoordenação ao que já estava fora de controle. O próprio Lula engrossou o coro dos críticos em duas reuniões político-gastronômicas da semana passada —um jantar com a bancada de senadores do PT e um café da manhã com os dirigentes do PMDB.

Nesta segunda-feira, empurrada por Lula, a própria Dilma receberá para jantar no Palácio da Alvorada os caciques do PMDB. Vão discutir a relação à luz do que disse o aliado Renan Calheiros: "A coligação está capenga".

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.