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Josias de Souza

Dilma entrega a gerência da sua imagem ao PT

Josias de Souza

27/03/2015 15h29

Detectada pelas pesquisas e ecoada em panelaços e protestos de rua, a impopularidade de Dilma Rousseff fez da imagem da presidente um problema urgente. A simbologia de gestora austera e eficiente ruiu. E Dilma já não consegue inspirar uma marca positiva. Foi contra esse pano de fundo que acaba de ser nomeado para o posto de ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República o político petista Edinho Silva.

Edinho foi tesoureiro da campanha presidencial de Dilma em 2014. Sua escolha representa uma guinada no pensamento da presidente para a área de comunicação. Dilma resistia à ideia de enfiar um representante do PT dentro do cofre que guarda as verbas de publicidade do governo. Coisa de R$ 5 bilhões anuais. Ela receava sobretudo desagradar os meios de comunicação, avessos à pregação petista em favor da regulação da mídia. Sob crise, a pressão do PT fez Dilma superar seus medos.

O novo ministro entra no lugar do jornalista Thomas Traumann, cujo pescoço foi à guilhotina depois que ganhou as manchetes um documento que ele havia produzido para consumo interno. No texto, Traumann diagnosticara o "caos político" em que se meteu o segundo governo de Dilma. Apontara uma desconexão entre o discurso oficial e a realidade.

Contra a impopularidade, Traumann receitara remédios de efeitos duvidosos. Por exemplo: mais "publicidade oficial focada em São Paulo", justamente a praça que rosna mais alto para Dilma. "Não há como recuperar a imagem do governo Dilma em São Paulo sem ajudar a levantar a popularidade do [prefeito paulistano do PT Fernando] Haddad", anotara o agora ex-ministro.

Edinho é sociólogo, não jornalista. Mas nada impede que ele recrute um profissional do ramo para lidar com os repórteres que realizam a cobertura diária da Presidência. As dúvidas que o novo ministro terá de responder são de outra ordem: pretende aplicar o orçamento de publicidade do governo segundo critérios partidários, como já foi insinuado no documento do antecessor? Planeja propor alguma alteração nas leis que regem a comunicação no país?

O uso político da publicidade seria inútil e desrespeitoso. Inútil porque ainda não foi inventada a propaganda capaz de vender um mau produto. Desrespeitoso porque o dinheiro que o contribuinte ganha suando não deve ser torrado assobiando. O desrespeito seria ainda maior se praticado em meio à crise que começa a roer a renda e o emprego.

Quanto à legislação, Edinho Silva costuma dizer coisas assim: "Temos que criar efetivamente condições para que haja uma democratização da comunicação no país. E isso passa pela democratização da propriedade dos veículos. É um debate que deve ser feito com muita tranquilidade, sem partidarismo e em parceria com a sociedade. Não pode haver dogmas."

Se fizer desse tipo de pregação uma prioridade de sua gestão, o novo ministro da Comunicação Social tende a virar uma crise antes mesmo de comunicar sua primeira ideia para sanar o déficit de credibilidade que aproxima a imagem de Dilma do chão.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.