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Josias de Souza

Jucá: partidos queriam quintuplicar suas verbas

Josias de Souza

24/04/2015 04h50

Relator do Orçamento da União de 2015, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) está sob bombardeio por ter triplicado as verbas destinadas ao fundo partidário, elevando-as de R$ 289,5 milhões para R$ 867,5 milhões. Abandonado na trincheira, ele decidiu, por assim dizer, entregar seus cúmplices. Disse ter tonificado essa rubrica "a pedido de todos os partidos." Contou que, se dependesse dos dirigentes das legendas, o valor teria sido quintuplicado, subindo para R$ 1,48 bilhão.

"Os partidos pediram R$ 1,2 bilhão a mais", declarou Jucá na tribuna do Senado. "Eu, como relator, entendi que deveria fazer um acréscimo de R$ 500 milhões." Em verdade, a adição providenciado por Jucá foi de R$ 578 milhões. Em tempos de Lava Jato, o senador deu a entender que os colegas foram a ele de pires na mão porque as fontes privadas secaram.

"Estavam todos apavorados. Não havia recursos para que os partidos pudessem funcionar neste ano. Por conta de várias questões políticas, as doações empresariais cessaram."

Esse tema ganhou as manchetes depois que Dilma Rousseff sancionou o Orçamento sem vetar o fundo partidário turbinado. Politicamente debilitada, a presidente foi generosa com os partidos num instante em que seu governo se prepara para anunciar cortes bilionários nos gastos e investimentos previstos no Orçamento que acaba de ser sancionado.

A senadora Ana Amélia (PP-RS), que se opõe à elevação do fundo partidário, brincou com o descoforto de Jucá. Disse que os partidos o deixaram "pendurado no pincel." Jucá reiterou: "a solicitação foi de todos os partidos". E a senadora: "Vossa Excelência matou a bola no peito e agora recebe uma bola pelas costas. Está pagando o preço de uma conta que não é só sua, é uma conta que deve ser compartilhada com os dirigentes partidários."

Discursando antes de Jucá, o senador Regufe (PDT-DF) caprichara nas críticas à benevolência do colega para com os partidos. Em resposta, Jucá dedurou o presidente do partido do orador rival. "Respeito a posição do senador Reguffe, mas ele deve cobrar do presidente [do PDT, Carlos] Lupi, que mandou um ofício por escrito pedindo R$ 1,2 bilhão. Se o partido não quiser receber o recurso, ele o devolve. Ninguém é obrigado a gastar, não!"

Num aparte ao pronunciamento de Jucá, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) deu o braço a torcer: "Eu acho que nós erramos coletivamente e precisamos fazer o mea-culpa." Para Ferraço, faltou sensibilidade ao Congresso e também à presidente, que não exerceu o seu poder de veto.

Ferraço empilhou as razões que os congressistas e Dilma ignoraram, todas relacionadas aos "sacrifícios sem precedentes" que a conjuntura impõe aos brasileiros: a inflação alta, a elevação do desemprego, o balanço "estarrecedor" da Petrobras… "O ambiente é de muita icerteza, é de manifestações impopulares. O Congresso errou. Eu faço o meu mea-culpa. E errou a presidente Dilma em não vetar, porque um erro não justifica o outro."

Jucá não se deu por achado. "Nós temos um orçamento de R$ 1,4 trilhão. O governo acaba de crescer R$ 26 bilhões em receita, e eu digo com muita tranquilidade que não serão R$ 500 milhões, cortando-se o funcionamento pleno dos partidos, que vão resolver o problema do país. Pelo contrário, eu acho que o problema do país se resolve pela política, resolve-se pela afirmação política, resolve-se com o funcionamento pleno dos partidos."

O relator do Orçamento disse recear que os críticos passem a mirar acima do fundo partidário. "Daqui a pouco, alguém vai dizer: 'Quanto custa o Congresso? Vamos fechar o Congresso porque é uma economia que se vai fazer?" Defensor do financiamento privado das campanhas, Jucá enxergou na reação à mexida que fez no Orçamento uma evidência de que o brasileiro não aceita eleições bancadas com verbas públicas.

"Fizemos as contas. Se o financiamento público de campanha passar, o que vai haver no fundo partidário serão R$ 6 bilhões para campanha. E não acredito que a maioria da sociedade brasileira concorde em tirar R$6 bilhões da educação, da saúde, da mobilidade urbana, do Minha Casa, Minha Vida, para colocar em fundo partidário para financiar candidatura de ninguém."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.