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Josias de Souza

Aécio se acerta com Alckmin e tucanos postergam a disputa pela vaga de 2018

Josias de Souza

18/05/2015 04h48

Os tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin se entenderam sobre um modelo de coabitação partidária capaz de pacificar o ninho pelos próximos dois anos. Fizeram isso antes que suas respectivas infantarias deflagrassem prematuramente a batalha pela vaga de candidato do PSDB à Presidência da República em 2018.

Ficou combinado que, em convenção marcada para julho, Aécio será reeleito presidente do partido por mais dois anos. Alckmin indicará o secretário-geral, segundo posto mais importante da direção da legenda. Em 2017, quando Aécio estará estatutariamente impedido de ser reconduzido ao comando pela terceira vez, um integrante do grupo de Alckmin deverá sucedê-lo.

Na prática, manteve-se o modelo café-com-leite negociado em 2013: o mineiro Aécio na presidência e o paulista Mendes Thame na secretaria-geral. Com uma diferença: naquele ano, Aécio disputava a vaga de presidenciável com José Serra. Prevaleceu. E assumiu as rédeas para unificar o partido em torno de sua própria candidatura. Alckmin cogita agora indicar outro nome para o lugar de Thame, mais identificado com Serra.

A nova presidência de Aécio terminará um ano antes do início da campanha de 2018. Desde logo, está entendido que o jogo interno do PSDB foi, por assim dizer, zerado. O partido voltou a ter pelo menos dois candidatos que não dizem em público que são candidatos. Um, Aécio, cultiva a expectativa de que a memória da última campanha lhe assegure uma boa largada nas pesquisas. Outro, Alckmin, trabalha com a perspectiva de cavalgar a máquina partidária de São Paulo e a crescente rejeição ao petismo no maior colégio eleitoral do país.

O processo de escolha dos dirigentes do PSDB começou no último final de semana. Realizaram-se as convenções municipais. No mês que vem, ocorrerão as convenções estaduais. E em julho, a nacional.

Embora Alckmin não se movimente sob refletores, o tucanato dá de barato que, na hora própria, o governador de São Paulo pedirá preferência. E o PSDB se dividirá pela quinta vez sem ter instituído um método civilizado de escolha.

Em 2002, Serra tornou-se candidato ao Planalto atropelando Tasso Jereissati. Em 2006, Alckmin exigiu prévias. Mas Serra retirou-se do caminho. Desistiu da candidatura sem jamais ter declarado que era candidato. Teve receio de trocar uma provável eleição para o governo de São Paulo por uma segunda derrota para Lula.

Em 2008, Tasso Jereissati formalizou uma proposta que criava um sistema de prévias para a escolha de candidatos do PSDB a cargos executivos. Poderiam ser abertas a todos os eleitores ou fechadas, só para os filiados à legenda. Deu em nada.

Em 2010, Aécio foi escanteado queixando-se de que o PSDB não tinha organizado um sistema de prévias que lhe permitisse disputar a vaga de presidenciável com Serra. Hoje, sabe-se que Serra não queria mesmo as prévias. Dinamitou-as por baixo dos panos. Mas Aécio também não guerreou por elas.

Em 2014, foi Aécio quem se tornou candidato moendo Serra na base dos conchavos de cúpula. Tudo indica que a caciquia terá de ser acionada novamente em 2018. Considerando-se que o petismo sofre a corrosão do poder longevo, a perspectiva de poder fará voar plumas no ninho.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.