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Josias de Souza

Governo retoma práticas que dão em Lava Jato

Josias de Souza

20/05/2015 04h53

A reiteração de grandes escândalos —o petrolão sucedendo o mensalão— significa que o governo não aprende com seus erros. Em vez de buscar o caminho da moralidade, afunda-se nos velhos vícios. Politicamente enfraquecida, Dilma Rousseff reativou o toma-lá-dá-cá em pleno governo de continuidade. Levou ao balcão uma centena de cargos. E cuida para que os chefes partidários sintam-se contemplados com "espaços" na administração pública. Pode não dar em nada. Mas esse é justamente o tipo de prática que costuma desaguar em operações como a Lava Jato.

Nesta terça-feira (19), o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP federal, emplacou o ex-deputado federal Felipe Mendes na presidência da Codevasf, a Cia. de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba. Foi uma espécie de prêmio de consolação. Nogueira ambicionava a presidência do Banco do Nordeste. Mas para essa cadeira Dilma nomeou o economista Marcos Holanda.

Trata-se de um apadrinhado do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). Marcos Holanda tomou posse há cinco dias. Ao discursar, agradeceu sua nomeação a Dilma, ao ministro Joaquim Levy e a Eunício, cuja malograda campanha ao governo do Ceará ele coordenou, no ano passado. A coisa começa assim. Se desandar, os padrinhos renegam os afilhados. E a madrinha diz "eu não sabia".

Suprema ousadia: eleita com a promessa de transformar o Brasil, Dilma torna o país cada vez mais igual ao que sempre foi. E fica moralmente cada vez mais parecida com Lula, em cuja administração a Petrobras foi ao balcão. Muitos críticos do sistema sustentam que os partidos não têm jeito. Verdade. Mas essa não é a principal encrenca. O problema começa em quem oferece vantagens. PMDB, PP e congêneres apenas jogam o jogo que lhes foi proposto. Nesse ritmo, Dilma acaba extinguindo o direito do brasileiro de ser otimista.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.