Topo

Josias de Souza

Que tem a oferecer o PSDB?, pergunta a plateia

Josias de Souza

05/07/2015 05h15

O governo Dilma Rousseff está tonto. Lula cavalga uma agenda vencida. E o PT virou máquina coletora de pixulecos, como o ex-tesoureiro João Vaccari Neto chamava as propinas que embolsava. Contra esse pano de fundo, o PSDB realiza sua convenção nacional neste domingo convencido de que o petismo vai à próxima sucessão presidencial —em 2018 ou antes— como força favorita a fazer de um tucano o novo presidente do Brasil. Esse tipo de triunfalismo costuma levar à imobilidade, não à vitória.

Aécio Neves fica na presidência do partido até 2017. Mas já não é o candidato natural ao Planalto. Terá de tourear dois inimigos cordiais: Geraldo Alckmin, que também ambiciona a Presidência; e José Serra, candidato a estorvo. O estatuto da legenda prevê a realização de eleições prévias. Todos querem fazer prévias. Mas ninguém regulamenta as prévias. O tucanato ainda não aprendeu que as regras são sempre menos perigosas do que a imaginação. Sem elas, chega-se à autofagia.

Mesmo que se admita que a presença de Dilma no volume morto leva água para o moinho que abastece o ninho, os tucanos não estão desobrigados de responder à pergunta que o eleitorado faz aos seus botões: o que diabos o PSDB tem a oferecer? Num instante em que Lula faz pose de líder da oposição, Renan e Cunha reivindicam o título de herois da resistência, o PMDB prepara o desembarque e até o TCU grita "basta", o PSDB desperdiçará sua hora se achar que pode vencer apenas falando mal dos antagonistas e embrulhando sua raiva para presente.

Retirado do poder federal em 2002, o PSDB não conseguiu construir em 13 anos um ideário que pudesse ser chamado de programa alternativo. Hoje, o tucanato está acorrentado ao projeto-novela-das-nove, no qual o mocinho tucano percorre uma trilha ladrilhada com pedrinhas de brilhantes, cabendo à plateia apenas acompanhar o enredo e torcer pelo final feliz. Isso pode lotar páginas de jornal. Mas o que encherá as urnas será o sonho da prosperidade, que inclui pelo menos: controle da inflação, religamento das caldeiras da economia e o fechamento do porão de imoralidades pluripartidárias.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.