Equação: na Câmara, OP tem de ser igual a EC
A Câmara inicia na noite desta terça-feira (7) o segundo turno da votação da proposta de reforma política. Os deputados retornam ao tema nas pegadas da divulgação de uma pesquisa incômoda: já aprovada em primeiro turno, a contribuição de empresas para partidos políticos é rejeitada pela grossa maioria do eleitorado: 74%. Concordam com o financiamento privado das eleições apenas 16% dos eleitores, informa o Datafolha. Outros 10% preferiram não opinar.
Há uma semana, Eduardo Cunha havia se escorado em outra pesquisa, também do Datafolha, para celebrar a aprovação da emenda constitucional que reduz a maioriadade penal de 18 para 16 anos.
"Cumpri o compromisso de colocar em pauta as demandas da população. E, nesse caso, 87% do Brasil é a favor", dissera o presidente da Câmara, antes de sapatear sobre seus críticos: "Mesmo sob os protestos de uma minoria, o resultado foi a vontade do povo, que está com grito da impunidade entalado na garganta há muito tempo."
De repente, a 'OP', também conhecida como Opinião Pública, ficou sabendo que sua opinião tinha um prestígio insuspeitado junto a 'EC', o presidente da Câmara. Algo surpreendente, já que a 'OP' nunca desfrutou desse cartaz todo no Legislativo. Só de raro em raro deputados e senadores fazem ou deixam de fazer qualquer coisa com medo da reação da Opinião Pública.
Pois bem, durou pouco, muito pouco, pouquíssimo o apreço de 'EC' pela 'OP'. Informado sobre a aversão da Opinião Pública à transferência de dinheiro das empresas para a política, o mandachuva da Câmara transtornou-se.
Eduardo Cunha questionou a metodologia do Datafolha, que há poucos dias lhe servia de referência —"Eu não vi essa pesquisa e tem que ver como foi feita a pergunta". Desqualificou a entidade que encomendou a sondagem —"A OAB não tem muita credibilidade há muito tempo."
— Moral: Na Câmara, a equação só fecha quando 'OP' é igual a 'EC'.
— Moral dois: a opinião da Opinião Pública é muito importante. Mas o dinheiro ainda fala mais alto.
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