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Josias de Souza

Dilma inaugura sua fase de engolidora de sapos

Josias de Souza

21/07/2015 05h27

Submetida desde o ano passado aos rigores da dieta criada pelo médico argentino Maximo Ravenna, Dilma Rousseff teve de introduzir uma novidade no seu cardápio. Engoliu todos os sapos que Eduardo Cunha e Renan Calheiros lhe atravessaram na garganta nos últimos dias. Fez isso por absoluta necessidade, sem esboçar indigestão.

Em reunião com o núcleo de coordenação política do governo, Dilma combinou com ministros e líderes no Congresso que o governo reagirá aos ataques dos presidentes da Câmara e do Senado com humildade e moderação. Ou seja: estava completamente fora de si.

Noutros tempos, o rompimento de Cunha e as críticas de Renan à política econômica fariam Dilma entrar em erupção. Hoje, fraca e impopular, a presidente não tem musculatura para comprar brigas. Faz política. Enquanto engole batráquios, tentará restaurar o sistema de cooptação parlamentar.

Destacado para falar aos repórteres, o ministro peemedebista Eliseu Padilha (Aviação Civil), que administra o balcão de cargos e verbas em nome do articulador e vice-presidente Michel Temer, martelou a tese segundo a qual o rompimento de Cunha é pessoal e qualificou Renan como um aliado do governo.

De Nova York, onde se encontra, Michel Temer chamou os tremores que distanciam o Congresso do Planalto de "crisezinha". Para compreender o otimismo do governo, deve-se comparar o segundo mandato de Dilma a um prédio de dez andares.

Ao reassumir a Presidência, há quase sete meses, Dilma escalou o topo. Em seguida despencou do décimo andar. No momento, está em queda livre entre o sétimo e o sexto andar. E o governo festeja: "Até aqui, tudo bem."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.