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Josias de Souza

Dilma e Lula esnobaram tentativas de aproximação de FHC, hoje o cercam

Josias de Souza

25/07/2015 04h13

O alto tucanato recebeu com um pé atrás o flerte de Lula e Dilma Rousseff com Fernando Henrique Cardoso. Há cinco meses, a dupla esnobou FHC. No final de fevereiro, o ex-presidente tucano sinalizou para Dilma seu interesse em conversar. Fez isso por meio de um amigo comum, o advogado e ex-deputado petista Sigmaringa Seixas.

Numa conversa testemunhada pelo deputado Raul Jungmann (PPS-PE), ex-ministro do seu governo, FHC queixou-se da tática do "nós contra eles", adotada por Lula para estigmatizar a oposição. Antevendo uma deterioração dos cenários político e econômico, mostrou-se aberto ao diálogo com a presidente.

Nos primeiros dias de março, Sigmaringa transmitiu a Dilma o teor da conversa que tivera com FHC. Ela reagiu com indiferença. Não esboçou interesse em dialogar. Embora os recados de FHC fossem endereçados apenas a Dilma, Sigmaringa relatou o encontro também para Lula. Que refugou a tentativa de aproximação.

Os meses se passaram. Confirmaram-se os vaticínios de FHC. Com a economia em frangalhos, a lama da Petrobras a invadir-lhe a caixa de campanha e sitiada pelos aliados no Congresso, Dilma manifesta o desejo de estreitar a inimizade. Lula já não vê a aproximação como um despropósito.

Agora é FHC quem torce o nariz. Já havia estendido a mão para o petismo noutras oportunidades. Numa delas, dirigiu-se ao próprio Lula. Sem intermediários. Encontraram-se a bordo do jato presidencial, a caminho da África do Sul. Integravam a comitiva de ex-presidentes que Dilma levou aos funerais de Nelson Mandela.

No voo de volta, observado pelos ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor, FHC disse a Lula que era hora de unirem forças para reformar a política. Ainda latejavam na conjuntura os protestos que encheram as ruas na jornada de junho de 2013. E FHC disse para Lula que, sem uma reação adequada, a crise tragaria todos os políticos, sem muita distinção partidária. O morubixaba petista respondeu que estava mais preocupado com a eleição presidencial do ano seguinte.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.