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Josias de Souza

22 deputados do PMDB desautorizam negociações do líder por ministérios

Josias de Souza

01/10/2015 15h19

Antes mesmo de ser anunciada formalmente, a reforma ministerial de Dilma Rousseff sofreu seu primeiro revés. Em manifesto divulgado nesta quinta-feira, 22 deputados do PMDB desautorizaram os acertos firmados pelo líder Leonardo Picciani (RJ) para obter da presidente vagas adicionais na Esplanada. O grupo rebelde corresponde a 33% da bancada do PMDB na Câmara, composta de 66 deputados.

"Discordamos de qualquer negociação de cargos no governo, a qualquer título", anota o texto assinado por um terço da representação do PMDB na Câmara. "Não é com esse tipo de atitude que a profunda crise geral deve ser enfrentada, e sim com posturas que recuperem a credibilidade perdida."

Os signatários do documento deixam claro que não se deixarão influenciar pela reforma de Dilma. "Nosso posicionamento em plenário não dependerá desse tipo de barganha por cargos. Temos um só compromisso que é com a nossa consciência, com o Brasil, respeitando a vontade da população, expressa mais de uma vez nas pesquisas e nas ruas do nosso país."

Concebida com o propósito de atenuar o risco de abertura de um processo de impeachment na Câmara, a reforma de Dilma tinha na bancada de deputados federais do PMDB seu principal alvo. Para contornar a aversão que Eduardo Cunha nutre pelo Planalto, Dilma converteu o líder Leonardo Picciani em seu interlocutor preferencial. Em troca do apoio unitário de sua bancada, Picciani arrancou de Dilma duas pastas: a da Saúde e, provavelmente, a de Ciência e Tecnologia. Com seu manifesto, os 22 rebeldes informam que a presidente da República pode estar comprando do líder do PMDB um terreno na Lua.

Vai abaixo a íntegra do manifesto:

Nosso país sofre uma das mais graves crises econômicas de sua história. Ela é resultante de escolhas erradas das politicas de Governo, e traz de volta demônios que a Naçāo imaginava exorcisados: inflaçāo, desemprego, desindustrializaçāo e total desarranjo das contas públicas.

A crise ética avilta a Nação! A crise política alterna a condição de causa e efeito do quadro emergencial que vivemos agora. Tais crises estão ainda no seu início. Na raiz de tudo está uma condução do país errática, desacreditada  e que se enfraquece a cada dia. Agora o Governo, sem apontar um caminho claro, rende-se a um jogo político pautado pela pressão por cargos, num leilão sem qualquer respaldo em projetos ou propostas, sem conseguir apontar um horizonte de esperança para o povo brasileiro.

Diante desse quadro, nós integrantes da bancada do PMDB, nos manifestamos  no anseio  de que o nosso partido seja chamado à reflexão e ofereça outro tipo de contribuição ao Brasil:

1. Embora participando da base do governo federal, nos últimos anos, e tendo o vice-presidente da República, o PMDB nunca foi sequer convidado a participar das decisões governamentais que levaram a essas crises. As decisões políticas estratégicas nacionais, ao longo desses últimos anos , foram tomadas exclusivamente pelo PT, determinando a situação atual.

2. Discordamos de qualquer negociação de cargos no governo, a qualquer título. Não é com esse tipo de atitude que a profunda crise geral deve ser enfrentada, e sim com posturas que recuperem a credibilidade perdida.

3. Nosso posicionamento em plenário não dependerá desse tipo de barganha por cargos. Temos um só compromisso que é com a nossa consciência, com o Brasil, respeitando a vontade da população, expressa mais de uma vez nas pesquisas e nas ruas do nosso país.

4. queremos, dentro do Partido e com a sociedade, debater e apontar soluções para o país, que reduzam a máquina pública e retomem o desenvolvimento econômico e social para os brasileiros."

Assinam o documento: Alceu Moreira (RS), Baleia Rossi (SP), Carlos Marun (MS), Celso Maldaner (SC), Darcísio Perondi (RS), Dulce Miranda (TO), Edinho Bez (SC), Flaviano Melo (AC), Geraldo Resende (MS), Jarbas Vasconcelos (PE), José Fogaça (RS), Josi Nunes (TO), Laudívio Carvalho (MG), Lúcio Vieira Lima (BA),  Mauro Mariani (SC), Osmar Serraglio (PR), Osmar Terra (RS), Rogério Peninha Mendonça (SC), Ronaldo Benedet (SC), Roney Nemer (DF), Valdir Colatto (SC) e Vitor Valim (CE).

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.