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Josias de Souza

Beneficiário do Bolsa Família doa R$ 75 milhões

Josias de Souza

17/10/2016 18h14

Subiu para R$ 1,41 bilhão o montante de doações eleitorais suspeitas na campanha municipal de 2016. Isso correponde a mais da metade de todo o dinheiro doado a candidatos e partidos: R$ 2,227 bilhões. A nova cifra foi revelada no levantamento mais recente do Tribunal Superior Eleitoral, divulgado nesta segunda-feira. Entre os lançamentos suspeitos há um beneficiário do Bolsa Família que aparece como doador de R$ 75 milhões. Outro beneficiário do programa assistencial do governo emerge do cruzamento de dados como sócio de uma empresa de produções que faturou R$ 3,57 milhões por serviços prestados às campanhas.

Outro doador despejou nas campanhas R$ 50 milhões. Esse não consta do cadastro do Bolsa Família. Mas tampouco exibe renda compatível com a generosidade. Há também no levantamento um prefeito que despejou nas arcas do diretório municipal do seu partido a bagatela de R$ 60 milhões. Não é só: o número de doadores mortos subiu para 290. Juntos, os casos considerados suspeitos somam 259.968 lançamentos. Os dados foram recolhidos em órgãos de controle que firmaram parceria com a Justiça Eleitroal. Coube ao Tribunal de Contas da União fazer o cruzamento das informações.

Este é o sexto levantamento parcial sobre a contabilidade das campanhas que o TSE divulga. O primeiro veio à luz no início de setembro. As suspeitas de irregularidades somavam, então, R$ 116 milhões. A cifra malcheirosa foi subindo uma semana após a outra. Passou de R$ 275 milhões na semana seguinte. Foi a R$ 388 milhões na terceira semana. Bateu em R$ 554 milhões no dia 27 de setembro. Chegou a R$ 659 milhões em 4 de outubro. E alcançou a cifra de R$ 1,41 neste novo levantamento, que foi fechado na última sexta-feira (14) e divulgado nesta segunda (17).

O TSE conta os milagres sem divulgar os nomes dos santos —doadores e recebedores. Mantém os nomes dos suspeitos em segredo sob a alegação de que o levantamento apresenta indícios de fraudes que ainda estão em fase de apuração. Segundo o tribunal, as informações foram "compartilhadas" com o Ministério Público Eleitoral. Os dados sobre "clientes" do Bolsa Família foram repassados ao Ministério do Desenvolvimento Social. De resto, os indícios de malfeitos foram colocados à disposição dos juízes eleitorais. Instrução normativa baixada pelo TSE no último dia 16 de agosto prevê que os juízes darão prioridade à elucidação desses casos.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.