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Josias de Souza

Grupo de Aécio intervém na campanha de BH

Josias de Souza

24/10/2016 03h51

O risco de derrota levou o grupo de Aécio Neves a intervir na campanha de João Leite. Candidato do PSDB à prefeitura de Belo Horizonte, Leite foi ultrapassado nas pesquisas pelo rival Alexandre Kalil, do nanico PHS. Num esforço para tentar evitar um fiasco no seu principal reduto eleitoral, Aécio desembarca na capital mineira nesta segunda-feira.

Desde a semana passada, assumiram as rédeas do comitê de João Leite três pessoas da confiança de Aécio: a irmã Andrea Neves, uma jornalista com fama de estrategista eleitoral; o deputado federal Marcus Pestana, um dos mais influentes da bancada mineira; e o deputado estadual João Vitor, um radialista a quem o tucanato atribui talento para a comunicação de massa.

Com a concordância de Aécio, o grupo promove uma guinada no discurso da campanha. O bom-mocismo que o tucano João Leite desfilou ao longo do primeiro turno foi substituído por uma escalada de ataques ao adversário. Tenta-se "desconstruir" a imagem de empresário de mostruário que Kalil vende de si mesmo. Os tucanos agora avaliam que foi um erro não expor mais cedo as fragilidades do rival.

Ex-presidente do Atlético Mineiro, Kalil chegou à liderança nas pesquisas cavalgando a impopularidade dos partidos e dos políticos. Além de se apresentar como empresário, ele utiliza sua propaganda eleitoral para bater nos figurões da política mineira. Num comercial exibido na TV centenas de vezes, atacou simultaneamente o governador mineiro, Fernando Pimentel (PT); o prefeito da capital, Márcio Lacerda (PSB); e o grão-tucano Aécio Neves.

Ao sentir o cheiro de queimado, o novo comitê de João Leite exibe nos debates e na propaganda eleitoral os pés de barro do empresário Kalil. Escora-se em documentos como uma sentença em que o candidato do PHS foi condenado na primeira instância do Judiciário por apropriar-se de contribuições previdenciárias descontadas dos empregados de sua empresa. Ou uma certidão de débitos com o FGTS.

Há também no arsenal que o tucanato retira do seu paiol documentos atestando a existência de um passivo milionário de Kalil e de sua empresa com o IPTU. Eleito, o candidato do PHS conviveria com o incômodo de comandar uma prefeitura que cobra na Justiça o IPTU devido pelo prefeito.

Sempre que confrontado com as anomalias, Kalil diz que é um empresário como tantos outros, sujeito às intempéries da crise e ao endividamento. Em sua nova fase belicosa, o tucanato mineiro contrapõe às alegações do rival a autodoação de R$ 2,2 milhões que Kalil borrifou na caixa registradora de sua campanha.

Com a nova estratégia, o PSDB de Aécio desafia a tese segundo a qual pancadaria não rende votos. Para conhecer os efeitos da estratégia, será necessário aguardar pela divulgação das próximas pesquisas e, sobretudo, pela abertura das urnas. Aécio e seu grupo correm contra o relógio porque uma derrota em Belo Horizonte deixaria o senador mineiro em desvantagem na disputa que trava com o governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin, pela vaga de candidato do PSDB à sucessão de 2018.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.