Topo

Josias de Souza

‘Nada nos destruirá’, diz Michel Temer, subestimando poder de autocombustão

Josias de Souza

26/06/2017 15h44


"Não há Plano B", disse Michel Temer em solenidade no Planalto, nesta segunda-feira. É preciso reconhecer que o presidente tem razão. Se o que acontece no Brasil hoje significa alguma coisa, é a confirmação de que nunca houve um plano de contingência confiável ao fiasco de Dilma Rousseff.

O Plano A previa que Dilma nomearia Joaquim Levy para a Fazenda. Adotaria o programa de reformas econômicas defendido na campanha pelo rival Aécio Neves. O PIB voltaria a crescer. E ninguém prestaria atenção à roubalheira. Terminou em pantomima e impeachment.

O Plano B seria a reedição do Plano A, só que com o Henrique Meirelles no papel de neo-Levy e o PSDB de Aécio ocupando no palco posições que eram do PT. Sem os freios ideológicos de Dilma, Temer abraçou o receituário liberal sem culpa. O mercado estava adorando. Mas o presidente e seu PMDB esqueceram de maneirar.

Temer praticou, ele próprio, crime de corrupção passiva, acusa o procurador-geral da República Rodrigo Janot. Diante disso, o Plano C é… é… é… À medida que penetra o caos, o Brasil vai percebendo que também não há um Plano C. Fernando Henrique Cardoso tenta esboçar uma saída em cima da perna. Defende a renúncia do presidente e a convocação de eleições gerais. Ai, ai, ai…

À espera da denúncia em que a Procuradoria o tachará de corrupto, Temer proclamou nesta segunda-feira, rodeado de auxiliares investigados: "Nada nos destruirá. Nem a mim nem aos nossos ministros." O inquilino do Planalto subestima o seu poder de autocombustão.

Temer finge não perceber. Mas seu governo foi reduzido a uma metáfora culinária. Tentou levantar o PIB, mantendo rebaixados os padrões morais da administração pública. E a receita desandou. A calda queimou. O presidente e o seu séquito de encrencados transformaram o pudim das reformas num vexame. Fizeram isso sozinhos, sem o auxílio de opositores.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.