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Josias de Souza

Renan se equipa para voltar a comandar Senado

Josias de Souza

21/02/2018 03h14

As pesquisas ainda não permitem antever quem será o próximo presidente da República. Mas seja quem for, corre um risco estupendo de ter que pagar pedágio a Renan Calheiros para alcançar a governabilidade. Colecionador de inquéritos, denúncias e ações penais, Renan organiza sua infantaria para pleitear a presidência do Senado pela quinta vez. Mexe-se com a certeza de que será reconduzido a Brasília pelo eleitor de Alagoas.

Por enquanto, Renan dedica-se a remover do seu caminho o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira, que sonha em ser reconduzido ao posto em 2019. Ele não perde a oportunidade de medir forças com o rival. Nesta terça-feira, a dupla travou em plenário uma briga na qual Michel Temer entrou com a cara. A matéria prima da desavença foi o decreto sobre a intervenção federal na segurança do Rio.

Esgrimindo o artigo do regimento que limitava o número de oradores, Eunício quis sonegar o microfone ao correligionário do PMDB. Com isso, ofereceu a Renan a possibilidade de transformar num cavalo de batalha seu desejo de espinafrar a intervenção de Temer. Supremo paradoxo: no final, Renan acabou votando a favor da intervenção, a mesma que tachara minutos antes de "decorativa" por não ter alcançado o pescoço do pseudo-governador Luiz Fernando Pezão.

A exemplo de Renan, Eunício também luta pela reeleição no seu Estado, o Ceará. Eles têm algo em comum. Num instante em que um pedaço do PT procura um Plano B, ambos não abrem mão de manter Lula como Plano A. Preso ou solto, o pajé do PT não deixará de ocupar o topo do ranking de preferências do eleitorado nordestino. Se necessário, Renan e Eunício subirão no caixote para alardear em suas províncias o refrão petista segundo o qual "eleição sem Lula é fraude."

A democracia, como se sabe, é um regime em que as pessoas têm ampla e irrestrita liberdade para exercitar sua capacidade de fazer besteiras por conta própria. Mas o eleitor dispõe de uma vacina capaz de imunizá-lo contra a sensação de que o voto é um mero equívoco renovado de quatro em quatro anos. Basta jogar água no chope de oligargas que já se julgam eleitos. A troca não é garantia de acerto. Mas proporciona o prazer de cometer erros diferentes.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.