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Josias de Souza

Brasil reage à crise na Venezuela sem método

Josias de Souza

21/05/2018 20h16

A diplomacia brasileira caducou. A principal evidência de sua senilidade está na forma atabalhoada que lida com o derretimento institucional da Venezuela. Sob Lula e Dilma, vigorou a diplomacia das empreiteiras, levadas a Caracas com o dinheiro barato do BNDES. Deu em calote. Sob Temer, um Itamaraty tucano dedica-se a bicar em público o regime bolivariano. Vai dando em vexame, pois quem briga com gambá, mesmo que ganhe, sai cheirando mal.

Ah, que saudade da diplomacia brasileira. Mesmo nos períodos em que a opinião do Brasil não interessava a ninguém no mundo, como agora, todos sabiam que, se acontecesse o pior, se tudo desse errado, sobrava a coerência da diplomacia brasileira. Num caso como o Venezuela, que mantém com o Brasil algo como 2.200 quilômetros de fronteiras, a antiga diplomacia brasileira não ignoraria que a divergência, quando é inevitável, deve ser exercida com muita calma.

Diante das fraudes que mantiveram Nicolas Maduro no poder, a diplomacia brasileira diverge sem método. Grita em notas oficiais no mesmo timbre dos Estados Unidos. Na base do grito, Brasília arrisca-se a perder o papel de moderador para Washington, que grita a esmo desde que Donald Trump assumiu o comando. Trump quer que a Venezuela se exploda. Sobram para Brasil os estilhaços: o buraco no orçamento do BNDES, coberto com dinheiro do seguro desemprego, e o êxodo dos venezuelanos que cruzam a fronteira em busca de oportunidades inexistentes.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.