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Josias de Souza

Juiz é gatuno, mas Brasil jogou como um gatinho

Josias de Souza

17/06/2018 18h43

A torcida brasileira passará a semana rosnando: "Juiz ladrão." E não há, de fato, desculpa que redima o juiz mexicano Cesar Ramos, nenhuma atenuante que o absolva. Não ver com os próprios olhos, vá lá. Mas o desprezo pelo terceiro olho leva a arquibancada a se perguntar: Qual é, afinal, a serventia do tal árbitro de vídeo?

Beleza. Contudo, a segunda interrogação da partida é mais exasperante do que a primeira: por que diabos o Brasil pisou no freio depois dos 30 minutos iniciais? Incompreensível. Escorada no golaço de Felipe Coutinho, a seleção cedeu espaço ao adversário, permitindo que se esfarelasse, à vista de todos, seu denso favoritismo.

Um time mais compenetrado teria assegurado a vitória a despeito do gol irregular da Suíça e do pênalti que o apitador se absteve de conceder ao Brasil. Sobreveio o deprimente empate. Pode-se dizer que houve um par de chances de gol. Também é lícito alegar que Neymar foi caçado em campo. Mas o que conta é o chocho 1 X 1.

Nesse contexto, o juiz ladrão apenas valorizou o fiasco da estreia brasileira na Copa. Deve-se agradecer ao larápio. Ele deu uma dimensão nova à celebrada seleção de Tite. Ficou entendido que a chuteira nem sempre é o melhor revestimento para pés tão cultuados. A sandália da humildade por vezes assenta o pé no solo com mais firmeza.

Foi bom que o Brasil tivesse sido assaltado no jogo inaugural. Um time que não consegue exibir atuação regular diante de um adversário cuja habilidade mais exaltada é a retranca precisa ser sacudido.

O juiz portou-se como um gatuno. Mas o Brasil exibiu-se na maior parte do jogo como um gatinho. E uma seleção que mia diante de um adversário tão inferior tecnicamente, não merece avaliações condescendentes. O Brasil chegou à Copa com aparência de leão. Ou faz jus à juba ou ela será passada na máquina zero.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.