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Josias de Souza

Alckmin sofre a primeira chantagem do centrão

Josias de Souza

21/07/2018 02h30

Menos de 24 horas depois de celebrar um acordo pré-nupcial com o centrão, Geraldo Alckmin se deu conta de que um matrimônio político, quando se baseia apenas no interesse, transforma-se rapidamente em patrimônio. Percebeu que, para o deputado Paulinho da Força, proprietário do Solidariedade, um dos partidos do grupo, a fidelidade conjugal só é possível a três. A união com Alckmin ainda nem foi sacramentada e Paulinho já acena para Ciro Gomes.

Conforme já noticiado aqui, Paulinho, um cacique da Força Sindical, combinara com sua tribo que condicionaria o apoio a Alckmin à volta do imposto sindical, que obriga trabalhadores a entregarem um dia de labuta para os sindicatos. Na quinta-feira, após reunião do alto comando do centrão com o candidato tucano, informou-se que Alckmin concordara em incluir na sua agenda a criação de nova fonte de renda para as arcas sindicais.

Nesta sexta-feira, em nota veiculada no Twitter, Alckmin levou o pé atrás: "Ao contrário do que está circulando nas redes, não vamos revogar nenhum dos principais pontos da reforma trabalhista. Não há plano de trazer de volta a contribuição sindical."

Antes mesmo da veiculação da mensagem do candidato, Paulinho já havia sinalizado para o staff de Ciro, com quem parecia fechado dois dias antes, a intenção de trair Alckmin. Como de hábito, impôs uma condição: entregaria os segundos de propaganda do Solidariedade a Ciro desde que o PSB e o PCdoB fizessem o mesmo.

Do lado de Ciro, o aceno de Paulinho foi recebido com desconfiança. Um dos operadores políticos de Alckmin chamou de chantagem a tentativa de adultério pré-nupcial de Paulinho

Quem observa o vaivém da política percebe o seguinte: das várias maneiras de se atingir o desastre nesse ramo, a incoerência é a mais rápida; a solidão, a mais inofensiva; e a aliança com o centrão, a mais cara.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.