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Josias de Souza

Para FHC, disputa em SP não tira Serra de 2014

Josias de Souza

28/02/2012 04h29

De passagem por Nova York, Fernando Henrique Cardoso comentou pela primeira vez a entrada de José Serra na disputa pela prefeitura de São Paulo. Acha que a decisão foi boa e serve aos interesses do PSDB e também de Serra. "Dá a chance para o partido ganhar [a eleição] e dá a ele uma revitalização política."

FHC falou ao repórter Gustavo Chacra. Um dos defensores da tese segundo a qual não restava a Serra senão subir ao ringue municipal, ele declarou que a decisão, por acertada, permitirá ao ex-presidenciável tucano "voltar à cena política com força."

Perguntou-se a FHC se o projeto municipal exclui Serra da refrega presidencial de 2014: E ele: "Política é uma coisa muito dinâmica. Tem sempre a cláusula de prudência. Política não é uma coisa em que os horizontes se fecham."

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A declaração tem um quê de diplomacia. Em privado, FHC alinha-se ao grupo que enxerga em Aécio Neves a opção preferencial do PSDB à sucessão de Dilma Rousseff. Critica-o pela inação. Mas já qualificou-o em público de candidato "óbvio".

A pretexto de fazer média com o amigo Serra, FHC termina por conspucar-lhe a estratégia. Um dos grandes desafios de Serra será o de convencer o eleitor paulistano de que, eleito, não abandonará o mandato de prefeito pelo meio, como fez em 2006.

Há dois dias, o aliado Gilberto Kassab (PSD) apressou-se em declarar que Serra abdicara de suas pretensões presidenciais para concentrar-se em São Paulo pelos próximos cinco anos. A manifestação de FHC como que açula a dúvida: será?

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E quanto às prévias? Acha que a presença de Serra esvazia a disputa preliminar interna? FHC refugiou-se atrás de evasivas: "Não estou no Brasil e não acompanhei de perto esta evolução. Quem está coordenando é o governador Geraldo Alckmin."

Depois, soou como se considerasse as prévias desnecessárias: "O peso eleitoral do Serra é de tal magnitude que eu acho que o partido vai se ajustar à realidade política." Recordou-se ao entrevistado que, enquanto o tucanato reveza as mesmas candidaturas em São Paulo –ora Serra ora Alckmin—, o PT de Lula tenta renovar-se com Fernando Haddad.

Não faltam caras novas ao tucanato? Ao responder, FHC referiu-se às prévias tucanas como se já não fizessem parte do calendário:

"As prévias foram uma tentativa nesta direção. Mas quando você tem alguém com a densidade política do Serra, que se disponha a ser candidato a prefeito, do ponto de vista do PSDB há uma importância estratégica, porque existe realmente viabilidade de ganhar São Paulo."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.