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Josias de Souza

Mulher diz que Cachoeira se considera um ‘bode expiatório’ e ‘reflete’ sobre o que vai dizer na CPI

Josias de Souza

27/04/2012 06h30

Mulher de Carlinhos Cachoeira, 49, Andressa Mendonça, 30, tem feito visitas regulares ao marido na cadeia. Deu-se na terça-feira (24) o último encontro. Em entrevista à repórter Catia Seabra, levada às páginas da Folha nesta sexta (27), ela conta o que vai na alma do marido.

Cachoeira está "revoltado". Considera-se um "preso político". Acha que o escolheram para "bode expiatório". Mantém-se informado atrás das grades. Além do noticiário, "lê o Código Penal, a Bíblia e o inquérito."

Perguntou-se a Andressa se Cachoeira levará os lábios ao trombone ao depor na CPI que leva seu nome. E ela, algo enigmática: "Ele reflete muito. Como toda pessoa que está presa, longe dos seus, pensa uma coisa e, depois, pensa outra. Difícil saber o que vai acontecer. Ele não tomou uma decisão."

Confinado no presídio de segurança máxima de Mossoró (RN), Cachoeira perdera "quinze quilos". Após a transferência para a penitenciária da Papuda, em Brasília, "já ganhou peso." Segundo Andressa, "a cabeça dele está muito bem. As ideias estão se organizando. Mais tranquilo, menos ansioso. O isolamento de Mossoró fazia-lhe muito mal."

Aos olhos da mulher, Cachoeira é um injustiçado: "Julgam o Carlinhos por isso ou por aquilo. Mas a pessoa que eu conheço não é essa. O Carlinhos que eu conheço faz caridade, doa caminhão de macarrão para creche, doa caminhão de brinquedo. É humano, comprometido e responsável."

Andressa aborreceu-se com um comentário feito por Pedro Simon (PMDB-RS), ao pedir que o Conselho de Ética requisitasse proteção para Cachoeira na cadeia: "Fiquei muito chateada quando um senador, acho que Pedro Simon, disse que ele é o futuro PC [Farias]. Pegaram o Carlinhos, julgaram, condenaram e agora querem matar."

Ela acha graça quando vê amigos renegando o marido: "Isso é cômico. Não entendo. O Carlinhos tem tantos amigos de todos os níveis sociais. Não vejo problema em dizer que o conheciam." Tem falado com Demóstenes Torres? "Falei com ele antes, agora ele está cuidando da defesa dele."

Quando se uniu a Cachoeira foi alertada de que ele operava no ramo do jogo? "Dizer isso seria afirmar uma contravenção. Posso dizer que fui avisada que ele estava batalhando pela regulamentação dos jogos. Lá fora, Carlinhos seria considerado um grande empresário. Aqui, é contraventor. […] Ele está batalhando. Ninguém quer ficar na informalidade. Ele também não."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.