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Josias de Souza

Na TV, DEM capitaliza expurgo de Demóstenes

Josias de Souza

31/05/2012 19h23

Vai ao ar daqui a pouco, às 20h30, a propaganda institucional do DEM. A legenda aproveita a janela que a legislação oferece para capitalizar, em rede nacional de rádio e tevê, o expurgo do senador Demóstenes Torres. Um personagem que, até um mês atrás, era apresentado como pré-candidato à Presidência da República.

Demóstenes, que pediu a desfiliação do DEM para não ser expulso, é o protagonista invisível da abertura do comercial. Sem mencionar-lhe o nome, uma locutora como que proclama a culpa do senador: "Tem muita gente que, ao invés de limpar, costuma esconder a sujeira, mas tem gente que faz diferente. […] Ao invés de passar a mão na cabeça, pune e expulse os culpados."

Na sequência, aparece o senador José Agripino Maia (RN), presidente do DEM federal: "Nós fomos os primeiros a apoiar a instalação da CPI do Cachoeira. Nós queremos ir fundo na investigação. Não para posar de herois, mas para sermos coerentes com os nossos valores e os nossos princípios…"

Ainda debilitado pela lipoaspiração decorrente da fuga de seus quadros para o PSD de Gilberto Kassab, o DEM aproveita-se do Cachoeiragate e da proximidade do julgamento do mensalão para fixar a imagem de partido "diferente". Uma legenda que, como as outras, abriga pecadores do porte de José Roberto Arruda e Demóstenes. Mas não hesita em expiar os seus pecados.

O partido também utiliza a propaganda para apropriar-se do Plano Real. Apresenta-se como coresponsável pelo legado de FHC. Um legado que o parceiro PSDB sempre hesitou em assumir.

De resto, o DEM utiliza a peça para levar à vitrine a cara dos seus principais candidatos a prefeito. Entre eles ACM Neto (Salvador), Mendonça Filho (Recife), Rodrigo Maia (Rio) e João Alves (Aracaju). Como peça de marketing, o comercial é bom. Resta saber se o eleitorado, já exausto do lero-lero político, vai associar o produto à embalagem.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.