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Josias de Souza

Demóstenes decide romper o silêncio e prepara série de discursos para tentar salvar o mandato

Josias de Souza

30/06/2012 19h16

Ausente da tribuna do Senado há 116 dias, Demóstenes Torres quebrará o silêncio. Fará uma série de pronunciamentos nos dias que antecedem a votação do pedido de cassação do seu mandato, marcado para 11 de julho.

"A partir desta segunda-feira (2), ele vai falar", disse ao blog Antonio Carlos de Almeida 'Kakay' Castro, o advogado do senador. "Vai ocupar a tribuna todos os dias para fazer o enfrentamento pontual de tudo o que foi imputado a ele."

Demóstenes chama a maratona de discursos de "prestação de contas". Segundo Kakay, seu cliente manterá a língua em riste "até o dia do julgamento". Por quê? "Agora que o processo está fechado, chegou a hora de falar."

Deu-se em 6 de março o último discurso de Demóstenes no Senado. Contra a vontade do advogado, o senador tentou defender-se da acuação de que colocara o mandato a serviço de Carlinhos Cachoeira.

Nesse pronunciamento, Demóstenes reconhecera ser amigo de Carlinhos Cachoeira. Mas negara o envolvimento com os negócios da quadrilha do protagonista da Operação Monte Carlo. Ouviram-se 44 apartes.

Em uníssono, os colegas solidarizam-se com Demóstenes. Derramou-se sobre o orador uma cachoeira de elogios e de manifestações de confiança. Decorridos quase quatro meses, a turma dos apartes sente-se traída. E o discurso sobrevive apenas como matéria prima para o pedido de cassação.

Hoje, Demóstenes está sem partido e com muitos problemas. Afora o cadafalso iminente do Senado, é alvejado por investigações no STF e na CPI do Cachoeira. Enfrenta um pedido de cassação aprovado por unanimidde no Conselho de Ética do Senado –15 a zero.

Demóstenes teve de bater em retirada do DEM para não ser expulso. Perdeu a aura de paladino da ética e o título de líder. Passou a frequentar o plenário só de raro em raro. Longe dos refletores, os colegas fogem dos seus telefonemas.

É contra esse pano de fundo conspurcado que Demóstenes vai soltar a língua. Fora do plenário, movera os lábios pela derradeira vez num depoimento ao Conselho de Ética, em 29 de maio. "Redescobri Deus", dissera. "Se eu cheguei até aqui, é porque readquiri a fé."

Tachado de "despachante de luxo" de Cachoeira no relatório que pede que seu mandato seja passado na lâmina, Demóstenes nunca dependeu tanto do Padre Eterno como agora. Precisará de um milagre para reverter a situação adversa. O diabo é que a ligação do senador com o contraventor provou que Deus existe. Mas não é full-time.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.