Presidente do Paraguai iguala queda de Lugo à de Collor e quer ‘normalizar’ relação com Brasil
Federico Franco, o novo presidente do Paraguai, comparou a deposição de Fernando Lugo ao afastamento de Fernando Collor, em 1992. "Aqui, houve um juízo político. É o mesmo impeachment que foi feito a Collor, no Caso Collor, no Brasil", disse.
Ele afirmou que trabalha "para que as relações" entre Paraguai e Brasil, hoje estremecidas, "melhorem". Deseja que, "daqui para a frente, se normalizem." Fedrico falou ao repórter Léo Gerchmann. As perguntas lhe chegaram por escrito. As respostas foram dadas em áudios enviados por e-mail.
Afora os "vínculos muito sólidos" que unem Paraguai e Brasil, Federico mencionou duas razões adicionais para que os dois países devolvam o relacionamento aos trilhos da normalidade: "a presença de 500 mil paraguaios de origem brasileira que vivem e trabalham no meu país" e "a presença de cerca de 100 mil paraguaios que estão radicados em diferentes locais do Brasil".
Tachou de Reafirmou "ilegal, injusta e ilegítima" a suspensão do Paraguai do Mercosul. Reafirmou que também foi "ilegal" a admissão da Venezuela no bloco, feita à revelia do Paraguai. A entrevista, disponível aqui, vai reproduzida abaixo:
— O senhor já fez contato com alguma autoridade brasileira desde 22 de junho, quando assumiu a presidência? Não. Não tive ocasião de falar com autoridades do Brasil.
— No Brasil, dizem que a presidente Dilma Rousseff foi determinante para que não houvesse sanções econômicas contra o Paraguai — como seria a intenção da Argentina —, em razão das relações estreitas entre os dois países. Por isso, agiu com mais discrição que a Argentina. Como o senhor vê isso? Não tenho conhecimento, não tenho ideia. Não participamos da reunião de Mendoza. Logo, não temos conhecimento do que realmente se passou. Com o Brasil, temos vínculos muito sólidos, a construção de Itaipu [hidrelétrica binacional], a Ponte da Amizade [que une os dois países nas cidades brasileira de Foz do Iguaçu e paraguaia de Ciudad del Este], a presença de 500 mil paraguaios de origem brasileira que vivem e trabalham no meu país, a presença de cerca de 100 mil paraguaios que estão radicados em diferentes locais do Brasil e uma história de tradição, de laços de amizade que sempre tiveram os povos de Paraguai e Brasil. Vamos trabalhar para que as relações melhorem e, daqui para a frente, se normalizem.
— Se em termos econômicos não houve punições, em termos políticos o Paraguai foi suspenso do Mercosul. O que o senhor acha disso? A suspensão é absolutamente ilegal e injusta e ilegítima. Foi feita sem o legítimo direito de defesa.
— Dizem que houve um golpe parlamentar no Paraguai com o impeachment do ex-presidente Fernando Lugo. O que o senhor diz disso? Negativo. Não. Aqui, houve um juízo político. É o mesmo impeachment que foi feito a Collor no Caso Collor, no Brasil [o afastamento do ex-presidente Fernando Collor, em 1992]. Nossa Constituição estabelece os passos que devem ser dados em um juízo político.
— O ex-presidente Lugo teve menos que dois dias para se defender das acusações, em um processo de 31 horas. Houve direito de defesa no seu caso? Foi dado o direito de defesa ao acusado. Abriu-se um prazo para as alegações. Foi um processo absolutamente constitucional.
— E a inclusão da Venezuela no vácuo do Paraguai (Brasil, Argentina e Uruguai decidiram aceitar a entrada do país de Hugo Chávez, que vinha sendo negada pelo Congresso paraguaio), provocado pela sua suspensão? Como o senhor vê isso? Foi uma decisão tomada também de forma ilegal e injusta pelos outros países sócios do Mercosul. O Paraguai já apresentou seu protesto, que está nos tribunais do Mercosul. Assim, o tempo vai definir essa situação.
— Mediante essa situação, o senhor vai buscar mercados alternativos ao Mercosul? Não, porque não houve qualquer sanção econômica. Em um período de 14 meses [o tempo que Franco terá de governo, entre o impeachment de Lugo e as próximas eleições presidenciais], é muito difícil tomar uma decisão. Seguramente, o próprio governo, seja qual for o político que seja o presidente, vai tomar uma uma ou outra decisão.
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