Carminha e Nina vencem o 1o ‘debate’ de 2012
Levados ao ar pela tevê Bandeirantes na primeira rodada de debates da temporada eleitoral de 2012, os candidatos enfrentaram uma concorrência desleal. Em São Paulo, ocuparam a cena oito postulantes ao cargo de prefeito. Revelaram-se capazes de quase tudo, menos de enfrentar o contraditório.
No primeiro bloco, os debatedores mornos disputaram o controle remoto com Carminha e Nina, cujo antagonismo eletrificava a parte final do capítulo de 'Avenida Brasil'. No segundo bloco, uma parceria hilária do líder José Serra com o nanico Levy Fidelix –um levantando a bola para o outro— ofereceu um contraponto piorado de 'A Grande Família', atração do outro canal.
No terceiro bloco, os candidatos responderam questionamentos dos jornalistas sem dar-lhes direito à réplica. Um simulacro de controvérsia bem menos interessante que as curvas de Gabriela e das meninas de Maria Machadão, a atração alternativa oferecida ao telespectador.
No quarto bloco, enquanto Serra e Levy arrancavam risos da platéia interna reunida em torno do pseudodebate, Pedro Bial exibia no seu 'Na Moral' a seminudez de três gostosas: Mulher Melão; Nathália Santoro, Garota Fitness SP-2012; e Katy Carolla, top model que envergou os panos chiques de 19 grifes no último Fashion Rio. No quinto e último bloco, encerrado depois da meia-noite, o grosso do eleitorado provavelmente já estava sob as cobertas, que ninguém é de ferro.
Afora a deslealdade da concorrência e a necessidade do telespectador de trabalhar no dia seguinte, a pantomima eleitoral enfrentou a conspiração dos marqueteiros. No Brasil das últimas eleições, os debates televisivos tornaram-se uma espécie de elixir embromatológico. Deve-se a elaboração da fórmula ao cartel do marketing.
O preparado contém 50% de auto-elogios, 50% de enrolação e 0% de contraditório. Coisa inofensiva para os candidatos e ofensiva aos eleitores. Ao exibir a preparação aquosa, a Bandeirantes fez o que lhe cabia. Melhor ter um "debate" entre aspas do que não ter nenhum. Quem teve a paciência de assistir pelo menos foi dormir na companhia de uma certeza: a escolha do voto exigirá atenção redobrada.
Os temas que mais interessam ao eleitor estavam todos lá: a saúde, a educação, o trânsito caótico, até a corrupção. Faltaram as ideias. Ainda que existam, seria impossível expô-las a contento no cercadinho de segundos de um programa com oito "atrações". Em meio à opacidade, reluziram os aliados radioativos.
Inquirido um par de vezes sobre o mensalão e a aliança vadia com Paulo Maluf, o petista Fernando Haddad serviu-se do rigor das regras para fugir das perguntas. Evitou sustentar a tese da "farsa do mensalão", tão cara a Lula. Absteve-se de defender os companheiros encrencados no STF. Bem treinado, gastou o seu (pouco) tempo lustrando a própria biografia –os 11 anos de vida pública limpa, as aulas de ética na USP…
Carlos Giannazi, espécie de franco atirador do PSOL, injetou numa indagação provocativa endereçada a Haddad uma referência à aliança tóxica de Serra com o PR do mensaleiro Valdemar Costa Neto. O candidato tucano fingiu-se de morto.
Num embate desse tipo, edulcorado pelas regras draconianas dos comitês, o eleitor que já escolheu um candidato tende a considerá-lo vencedor. A dúvida é: quem vence um debate opaco é melhor ou pior do que quem perde?
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