Topo

Josias de Souza

Aécio usa mensalão para rebater ataque de Lula

Josias de Souza

01/09/2012 20h47

Mal comparando, o mar e as campanhas políticas são coisas parecidas. As agressões eleitorais também chegam em ondas. Quebram nas costas dos adversários. Atrás vêm outras, e outras e mais outras. Cada onda é diferente mas o mar é sempre o mesmo, assim como cada insulto é diferente mas o surto que os impelem para a praia, e para os palanques, é constante e imutável. Podem subir e descer –como a maré— mas não falham.

Abalroado pelo câncer, Lula passou por um período de baixa-mar. Na noite passada, de passagem por Belo Horizonte, voltou à fase de preamar. Associado à candidatura municipal do petista Patrus Ananias, em desvantagem nas pesquisas, o ex-soberano surfou no velho estilo. Alvejado pelas diatribes, Aécio Neves retrucou neste sábado (1o), num evento de campanha do prefeito Marcio Lacerda (PSB), que disputa a reeleição com o apoio do senador tucano.

"Fico muito feliz de ver que o ex-presidente se recuperou, está bem de saúde e eu, como brasileiro, como seu amigo, quero registrar aqui a nossa alegria", disse Aécio. "Mas ele, talvez por ter ficado ausente do processo político em Minas durante muito tempo, mostrou que está muito desinformado."

Lula dissera que o governador tucano Antonio Anastasia, homem de Aécio, conduz uma administração "quebrada". E Aécio: "Ao contrário, [Minas] recebeu agora do governo federal, pelo Ministério da Educação, o Ideb. Foi considerado o Estado que tem a melhor educação fundamental do Brasil…"

"…Na área da saúde, foi considerado a melhor saúde da região Sudeste e a quarta do Brasil. A [agência de classificação de risco] Standard & Poors elevou o grau de investimentos em Minas para AAA. A nossa gestão em Minas ainda é referência para todos os organismos internacionais."

Lula também afirmara que, sob Anastasia, o Estado não investe na capital. Atribuíra as realizações da gestão municipal de Lacerda às inversões federais feitas na época em que ele era o presidente. Aécio reagiu levando aos lábios o mensalão, tema que costuma tirar Lula do eixo.

"O PT tem um viés equivocado ao analisar a questão de investimentos porque ele trata os recursos públicos como se fossem seus. Dinheiro federal, dinheiro estadual, isso é o menos importante, é dinheiro do povo, são impostos que todos nós aqui pagamos. É papel do governo federal fazer parceria com o Estado, como o governo estadual vem fazendo…"

"…Mas o PT se apropria das empresas públicas como fez, agora comprovado pelo Supremo Tribunal Federal, em relação ao Banco do Brasil. Uma vergonha. Uma instituição secular, o símbolo do Brasil que se e desenvolveu que avançou, é utilizada da forma como foi provada agora pelo STF, para atender a interesses do partido. Esse é um problema grave do PT. Ele tem muita dificuldade de separar o que é público do que é privado."

Como se vê, a disputa eleitoral voltou a deixar o mar revolto. Uma onda puxa a outra. Logo, logo Lula e o petismo derramarão na 'praia' de Belo Horizonte o mensalão mineiro do PSDB, que umedeceu as arcas eleitorais de Eduardo Azeredo na frustrada campanha reeleitoral de 1998. Nesse vaivém, o eleitor percebe-se engolfado num encapelado mar de ataques dos sujos contra os mal lavados.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.