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Josias de Souza

Aécio pega carona no fenômeno Daniel Coelho e testa seu prestígio no reino de Eduardo Campos

Josias de Souza

27/09/2012 05h21

Na tarde desta quinta-feira, o senador Aécio Neves desfilará suas pretensões presidenciais pelas ruas do centro de Recife. Submeterá seu prestígio a teste numa praça em que Eduardo Campos, adversário potencial de 2014, desfruta de taxas de popularidade que roçam os 90%.

Aécio vai à capital pernambucana sob o pretexto de potencializar a candidatura do PSDB à prefeitura local. Chama-se Daniel Coelho o candidato. Emerge nas pesquisas como um fenômeno eleitoral. Tornou-se, em verdade, uma oportunidade que o presidenciável tucano aproveita.

Egresso do PV, Daniel escalou dez pontos percentuais no Ibope em pouco mais de um mês. Dispõe de 24% das intenções de voto. Assumiu a vice-liderança. Desbancou o rival do PT, Humberto Costa, que já teve 32% e hoje encontra-se numa constrangedora terceira colocação, com 16%.

Ex-vereador, hoje deputado estadual, Daniel aprumou-se na campanha praticamente sozinho. Jovem de 33 anos, bem-apessoado, exibe um discurso fluido. Na propaganda de campanha, o verde do seu ex-partido prevalece sobre o azul do PSDB. Privilegia a temática local em detrimento das questões nacionais.

No momento, dedica-se a desconstruir a imagem do candidato fabricado por Eduardo Campos, o líder Geraldo Júlio (PSB) –39% no Ibope. Daniel explora um paradoxo. Cavalgando o prestígio do padrinho, Geraldo apresenta-se ao eleitorado como alternativa ao PT, no poder local há 12 anos. Porém…

O PSB de Eduardo Campos é sócio da administração petista de João da Costa, um prefeito que, por impopular, teve o direito de disputar a reeleição sonegado pelo PT. A legenda do governador ocupa vários cargos na gestão que a população desaprova, a começar da vice-prefeitura.

Ao expor a contradição, Daniel firma-se como voz oposicionista, em contraposição à pseudo-oposição encarnada por Geraldo Julio. Depois que Jarbas Vasconcelos acertou-se com Eduardo Campos, o neotucano tornou-se a única liderança que extrai algum êxito do confronto com o esquema do governador ultrapopular. A outra, Mendonça Filho, candidato do DEM, murchou para 4% no Ibope.

É contra esse pano de fundo que Aécio desfilará pelas ruas de Recife. Será mais ajudado pelo candidato do que o contrário. O Nordeste é uma espécie de calcanhar de vidro do seu projeto presidencial. O senador dispõe de baixa taxa de conhecimento na região. Aproveita a refrega municipal de 2012 para exibir-se também nesse pedaço do mapa brasileiro. Nesta quarta (26), passou por Sergipe e Paraíba. Além de Pernambuco, sua agenda inclui também o Piaui.

Daniel Coelho deve a candidatura ao predidente do PSDB federal, o deputado pernambucano Sérgio Guerra. A despeito disso, o candidato administra com método a associação ao tucanato. Fernando Henrique Cardoso gravou uma mensagem de apoio. A peça foi levada ao ar uma única vez na propaganda de campanha.

Numa disputa em que o rival do PSB é carregado pelo governador e o antagonista do PT gruda-se às imagens de Lula e de Dilma Rousseff, Daniel faz da ausência de padrinhos seu trunfo mais vistoso. A julgar pelas pesquisas, dificilmente virará prefeito. Mas sairá da eleição maior do que entrou. Se for ao segundo turno, como insinuam as pesquisas, empurrará para dentro de sua biografia um feito inimaginável até um mês atrás.

O ex-zero à esquerda fortalece a musculatura contrapondo-se a Eduardo Campos. O mesmo governador que, servindo-se da amizade que o liga a Sérgio Guerra, tentou seduzi-lo a trocar a "aventura" do candidato inexpressivo pela associação do tucanato à caravana de Geraldo Julio. O mesmo Eduardo que, também amigo de Aécio Neves, o PSDB gostaria de ter como vice de sua chapa em 2014.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.