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Josias de Souza

Valério diz que PT lhe pediu dinheiro para calar vozes do caso do assassinato de Celso Daniel

Josias de Souza

02/11/2012 16h25

Com o horizonte reduzido às paredes de uma cela, Marcos Valério aprende a andar nas paredes e no teto. Conforme já noticiado, depôs à Procuradoria. Na edição que chega às bancas neste feriado de finados, Veja relata pedaços da conversa em que o operador do mensalão tentou convencer o procurador-geral Roberto Gurgel a empurrá-lo para dentro do programa de proteção a testemunhas.

Quem ouve Valério fica com a impressão de que, ao despir-se diante dele, o PT mostrou o corpo malfeito da sua intimidade. Um dos segredos envolve o caso Celso Daniel, o ex-prefeito petista de Santo André que foi passado nas armas em janeiro de 2002. Contou que Lula e seu faz-tudo Gilberto Carvalho, hoje ministro de Dilma Rousseff, estavam sendo extorquidos por personagens ligados ao crime.

Citou o nome do empresário Ronan Maria Pinto, acusado pelo Ministério Público de integrar na época um esquema de desvio de verbas da prefeitura. Disse ter sido procurado pelo petismo para prover o dinheiro que seria dado aos achacadores. Na sua versão, o assunto foi tratado numa reunião que manteve com Silvio Pereira, então secretário-geral do PT, e com o próprio Ronan.

Valério disse ao procurador-geral que não aceitou participar da coleta. Mas informou que a conta do PT com Ronan foi fechada. Sabe quem pagou: um amigo pessoal de Lula. Atendido no seu pedido de proteção, Valério se dispõe a dar o nome do benfeitor e a logomarca do banco em que foram feitas as transações. Nada a ver, segundo ele, com as casas bancárias do mensalão.

De resto, o arsenal de segredos de Valério envolve desde o papel de Lula no mensalão –era o protagonista, ele assegura— até a participação do ex-ministro Antonio Palocci na engrenagem de arrecadação de verbas que transitavam por baixo das mesas do partido. Passa também pela origem do R$ 1,7 milhão apreendido pela PF com os aloprados petistas do dossiê, um escândalo de 2006.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.