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Josias de Souza

Telefonema interceptado pela polícia mostra que preso ordenou fim de ataques em Santa Catarina

Josias de Souza

20/11/2012 04h57

Após sofrer uma semana de ataques criminosos –de ônibus incendiados a investidas contra bases da polícia— Santa Catarina respira uma trégua. O último atentado ocorreu às 22 h de domingo (18), em Criciúma. Atingido por uma pedra, um ônibus teve a janela quebrada. Ferida, uma mulher foi hospitalizada. Desde então, não houve novas ocorrências.

Diálogo telefônico captado pela polícia revela que o cesar-fogo não resultou da repressão do Estado. Foi decidido pelos presos. Veiculada pelo 'Diário Catarinense', a conversa ocorreu no feriado de 15 de novembro, quinta-feira. Soam no grampo as vozes de dois detentos –um encontra-se atrás das grades de uma cadeia da cidade de Blumenau. Outro está num presídio de São Joaquim. No trecho mais revelador da fita, o diálogo flui nos seguintes termos:

— Amanhã já pode normalizar tudo, tá, meu irmão?

— Firmeza!

— Agora eu vou chegar ali na [cadeia] Pública [de Florianópolis] e passo um salve ali, tá?

— Firmeza. Eu vou passar um salve para [o presídio de] Biguaçu também.

— Fica o agradecimento de nós todo, tá ligado, irmão?, pelo apoio que os irmãos deram.

Na noite desta segunda-feira (19), o delegado-geral da Polícia Civil catarinense, Aldo Pinheiro D'Ávila, disse que os dois presos grampeados já foram identificados. O conteúdo da conversa virou recheio de um inquérito conduzido pela Diretoria Estadual de Investigações Criminais, o Deic de Santa Catarina.

Os ataques espalharam medo por pelo menos 17 municípios catarinenses. Suspeita-se que tenham sido ordenados como reação dos presos contra maus tratos impingidos a detentos. A polícia ainda não sabe quantos presidiários participaram da encrenca. Os criminosos que executaram os atentados nas ruas são contados em 68.

Depois da conclusão do inquérito, os envolvidos serão indiciados e processados por tentativa de homicídio, formação de quadrilha e incêndio. Por ora, fica boiando na atmosfera uma certeza: a exemplo do que ocorre noutras unidades da federação, as cadeias de Santa Catarina fugiram ao controle do Estado. Os presos dispõem de celulares e, pior, têm dinheiro de sobra para desperdiçar na compra de fósforos, gasolina, armas e munição para as ações contra a polícia e a coletividade.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.