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Josias de Souza

Taques e voto secreto: ‘Tenho medo de me trair’

Josias de Souza

31/01/2013 07h05

Nem sempre é fácil identificar um silvério na eleição para a presidência do Senado. Escondidos atrás do voto secreto, há senadores que procuram não parecer o que são. Porque os outros podem não ser o que parecem. Ou pior: podem ser e parecer.

Senador de primeiro mandato, o desafiante Pedro Taques (PDT-MT) enfrenta o veterano Renan Calheiros (PMDB-AL) com um criatório de pulgas atrás da orelha. Espanta-se com o vaivém de opiniões e de prognósticos. "Às vezes receio não ter nenhum voto", diz Taques, entre risos. "Tenho medo de me trair."

Nesta quinta, véspera da disputa, o azarão reúne-se com seu grupo. O encontro ocorrerá no gabinete de Jarbas Vasconcelos (PE), dissidente do PMDB. Presente, Randolfe Rodrigues, o candidato do PSOL, será instado a retirar-se da pista em favor de Taques, mais bem posto na disputa.

Dissidentes, independentes e oposicionistas contam com o desprendimento de Randolfe. Não que isso vá fazer muita diferença. Apenas avalia-se que, acomodados num cesto único, os poucos votos anti-Renan farão mais vista.

Sabe-se que Taques vai ao octógono do Senado para perder. A anticandidatura destina-se a "marcar posição", como costumam dizer os derrotados de véspera. Tenta-se agora evitar que Renam prevaleça com um mata-leão.

Quanto mais votos o desafiante tiver, maior o constrangimento imposto ao favorito. Nas contas mais otimistas, Taques aparece com algo entre 20 e 25 votos. Nas mais pessimistas, não passa de 15. Quer dizer: em qualquer hipótese, o pedaço do Senado que se diz preocupado com a ética caberá numa pequena van.

Os votos dissimulados precisam se cuidar. O colegiado é pequeno: apenas 81 cabeças. Com duas candidaturas, se uma delas arrastar votação demasiado mixuruca, ficará muito fácil identificar os traidores da tropa. Cavalo de Tróia, como se sabe, não galopa.

– Ilustração via Miran Cartum.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.