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Josias de Souza

Arthur Virgílio admite favoritismo de Dilma, acha que ‘falta clareza’ a Aécio e teme virar ‘sparring’ .

Josias de Souza

10/05/2013 05h44

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"Eu preciso que o PSDB me dê garantias de que eu posso pensar em me reapaixonar por ele." A frase é reveladora do estágio em que se encontra o maior partido da oposição. Pronunciou-a um tucano histórico: o ex-senador amazonense Arthur Virgílio, hoje prefeito de Manaus.

Convidado a discursar na convenção que aclamará Aécio Neves como novo presidente do PSDB em 18 de maio, Virgílio crivou sua mulher, Goreth, de perguntas: "O que eu faço? Discurso em inglês? Leio o discurso? Ator eu não sou!". Virgílio já aceitou o convite do partido. Falará em nome dos prefeitos tucanos. Orador tarimbado, torce para que a plateia o acenda.

Em entrevista ao blog, Arthur Virgílio fez declarações que ajudam a explicar o déficit de paixão que o acomete. Ele reconhece que Dilma Rousseff, com quem terá uma audiência nesta sexta-feira (10), é favorita na disputa presidencial de 2014.

A despeito da inflação, a crise econômica "não foi ainda percebida pela população", declara. "Não houve queda na renda" das pessoas. E os empregos, embora "não sejam de boa qualidade", continuam sendo gerados. Tudo isso "favorece quem está no poder."

Virgílio acredita que a presença de três candidatos no "campo da oposição" fará de 2014 uma disputa "mais renhida" do que as duas anteriores. Mas avalia que "falta clareza" a Aécio Neves e também a Eduardo Campos, o presidenciável do PSB. Ainda vinculado ao poder petista, "Eduardo está numa transição para a oposição", diz. Quanto a Aécio, "começa a explicitar um antagonismo com o governo." Porém, o cenário exige algo mais palpável do que uma "oposição de frases."

Virgílio enaltece Marina Silva (Rede). Não vê nela uma contendora com potencial para virar presidente. Mas elogia-lhe a nitidez: "A Marina, que afasta muito voto por ser como é, tem os votos que tem por ser como é. Os votos que ela tem não bastam para ganhar a Presidência da República. Mas os votos que ela tem sabem exatamente por que estão votando nela."

"O PSDB precisa se repensar", afirmou o entrevistado a certa altura. Ele concorda com a tese segundo a qual falta ao partido uma utopia nova. Algo com o apelo da estabilização da economia, que rendeu um par de mandatos a Fernando Henrique Cardoso. Virgílio, a propósito, lamenta que o ex-presidente tucano não seja 20 anos mais moço. Acha que, tomado pela "ebulição" do raciocínio, daria um bom candidato.

Para Virgílio, o PSDB tem "dois desafios". Dando-se de barato que Dilma estará no segundo segundo turno, a legenda precisa demonstrar que tem bala para amealhar a outra vaga. Além disso, tem de provar que é de fato competitivo. Torcedor fanático do Flamengo, o prefeito de Manaus receia que seu partido termine virando uma espécie de Vasco da Gama dos torneios presidenciais.

"Brinco muito com meus amigos vascaínos. Eu não quero para o meu partido um destino de Vasco da Gama. Vice, vice, vice, vice é complicado. Perder três eleições já foi um golpe duro. Perder uma quarta eleição é como sapato branco. É bonito nos outros. […] Daqui a pouco, você vira o sparring, não o lutador principal."

Afora as inquietações eleitorais, uma encrenca econômica atormenta Arthur Virgílio. A simples menção ao nome de Geraldo Alckmin o aborrece. Por quê? Segundo o prefeito, a pretexto de defender os interesses de São Paulo no debate sobre o ICMS e a 'guerra fiscal', Alckmin guerreia contra o pólo industrial de Manaus.

"Se o PSDB assume a cara do Alckmin, é óbvio que não tem espaço para nós dois. E como ele é o poderosíssimo governador de São Paulo é muito provável que o incomodado a se mudar tenha que ser eu." Na sucessão de 2006, o presidenciável do PSDB era Alckmin. No Amazonas, ele fez campanha ciceroneado por Virgílio. Hoje, o prefeito desaconselha a visita do governador paulista ao seu Estado.

"Creio que o Alckmin não deve ir lá nem para visitar hotel de selva. Teria que botar óculos escuros, um chapéu, bigode… Porque não seria uma pessoa bem-vinda no Estado. A gente deve dizer a verdeade." O problema do ICMS é um dos temas que Virgílio pretende discutir com Dilma no encontro desta sexta.

Na campanha municipal do ano passado, Dilma frequentou em Manaus o palanque da senadora Vanessa Grazzitin, do PCdoB, rival de Virgílio. Não está desconfortável com a visista?  Não, responde o prefeito. A presidente "foi extremamente elegante comigo. Não disse nenhuma palavra que me ofendesse." No dizer do prefeito, quem "se excedeu" foi Lula. Acabou percebendo que "pode muito, mas não pode tudo".

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.