Arthur Virgílio admite favoritismo de Dilma, acha que ‘falta clareza’ a Aécio e teme virar ‘sparring’ .
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"Eu preciso que o PSDB me dê garantias de que eu posso pensar em me reapaixonar por ele." A frase é reveladora do estágio em que se encontra o maior partido da oposição. Pronunciou-a um tucano histórico: o ex-senador amazonense Arthur Virgílio, hoje prefeito de Manaus.
Convidado a discursar na convenção que aclamará Aécio Neves como novo presidente do PSDB em 18 de maio, Virgílio crivou sua mulher, Goreth, de perguntas: "O que eu faço? Discurso em inglês? Leio o discurso? Ator eu não sou!". Virgílio já aceitou o convite do partido. Falará em nome dos prefeitos tucanos. Orador tarimbado, torce para que a plateia o acenda.
Em entrevista ao blog, Arthur Virgílio fez declarações que ajudam a explicar o déficit de paixão que o acomete. Ele reconhece que Dilma Rousseff, com quem terá uma audiência nesta sexta-feira (10), é favorita na disputa presidencial de 2014.
A despeito da inflação, a crise econômica "não foi ainda percebida pela população", declara. "Não houve queda na renda" das pessoas. E os empregos, embora "não sejam de boa qualidade", continuam sendo gerados. Tudo isso "favorece quem está no poder."
Virgílio acredita que a presença de três candidatos no "campo da oposição" fará de 2014 uma disputa "mais renhida" do que as duas anteriores. Mas avalia que "falta clareza" a Aécio Neves e também a Eduardo Campos, o presidenciável do PSB. Ainda vinculado ao poder petista, "Eduardo está numa transição para a oposição", diz. Quanto a Aécio, "começa a explicitar um antagonismo com o governo." Porém, o cenário exige algo mais palpável do que uma "oposição de frases."
Virgílio enaltece Marina Silva (Rede). Não vê nela uma contendora com potencial para virar presidente. Mas elogia-lhe a nitidez: "A Marina, que afasta muito voto por ser como é, tem os votos que tem por ser como é. Os votos que ela tem não bastam para ganhar a Presidência da República. Mas os votos que ela tem sabem exatamente por que estão votando nela."
"O PSDB precisa se repensar", afirmou o entrevistado a certa altura. Ele concorda com a tese segundo a qual falta ao partido uma utopia nova. Algo com o apelo da estabilização da economia, que rendeu um par de mandatos a Fernando Henrique Cardoso. Virgílio, a propósito, lamenta que o ex-presidente tucano não seja 20 anos mais moço. Acha que, tomado pela "ebulição" do raciocínio, daria um bom candidato.
Para Virgílio, o PSDB tem "dois desafios". Dando-se de barato que Dilma estará no segundo segundo turno, a legenda precisa demonstrar que tem bala para amealhar a outra vaga. Além disso, tem de provar que é de fato competitivo. Torcedor fanático do Flamengo, o prefeito de Manaus receia que seu partido termine virando uma espécie de Vasco da Gama dos torneios presidenciais.
"Brinco muito com meus amigos vascaínos. Eu não quero para o meu partido um destino de Vasco da Gama. Vice, vice, vice, vice é complicado. Perder três eleições já foi um golpe duro. Perder uma quarta eleição é como sapato branco. É bonito nos outros. […] Daqui a pouco, você vira o sparring, não o lutador principal."
Afora as inquietações eleitorais, uma encrenca econômica atormenta Arthur Virgílio. A simples menção ao nome de Geraldo Alckmin o aborrece. Por quê? Segundo o prefeito, a pretexto de defender os interesses de São Paulo no debate sobre o ICMS e a 'guerra fiscal', Alckmin guerreia contra o pólo industrial de Manaus.
"Se o PSDB assume a cara do Alckmin, é óbvio que não tem espaço para nós dois. E como ele é o poderosíssimo governador de São Paulo é muito provável que o incomodado a se mudar tenha que ser eu." Na sucessão de 2006, o presidenciável do PSDB era Alckmin. No Amazonas, ele fez campanha ciceroneado por Virgílio. Hoje, o prefeito desaconselha a visita do governador paulista ao seu Estado.
"Creio que o Alckmin não deve ir lá nem para visitar hotel de selva. Teria que botar óculos escuros, um chapéu, bigode… Porque não seria uma pessoa bem-vinda no Estado. A gente deve dizer a verdeade." O problema do ICMS é um dos temas que Virgílio pretende discutir com Dilma no encontro desta sexta.
Na campanha municipal do ano passado, Dilma frequentou em Manaus o palanque da senadora Vanessa Grazzitin, do PCdoB, rival de Virgílio. Não está desconfortável com a visista? Não, responde o prefeito. A presidente "foi extremamente elegante comigo. Não disse nenhuma palavra que me ofendesse." No dizer do prefeito, quem "se excedeu" foi Lula. Acabou percebendo que "pode muito, mas não pode tudo".