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Josias de Souza

Senado ‘estica’ a sessão por cinco horas e meia

Josias de Souza

14/05/2013 19h23

Votada no limite do prazo legal, a medida provisória dos Portos submete o Senado a um constrangimento. Reunidos em plenário, os senadores já não têm nada para votar nem para debater. Mas decidiram esticar artifialmente a sessão para esperar a chegada da MP portuária.

O senador Eduardo Braga (PMDB-AM), líder do governo, requereu uma prorrogação de cinco horas e meia. O pedido foi aprovado por 40 senadores. Eram necessários no mínimo 41 votos. Presidente da sessão, Renan Calheiros (PMDB-AL), que não votou, teve de contar sua própria presença para declarar "aprovado" o requerimento do governo.

Antes, Renan submetera o pedido de Braga a uma votação simbólica, considerando-o aprovado. A oposição protestou. E exigiu uma aferição nominal. O painel foi aberto. A infantaria do governo estava desmobilizada. E Renan protelou o anúncio do resultado por 40 minutos. Tempo suficiente para que os governistas saíssem laçando senadores nos gabinetes.

Os oposicionistas PSDB e DEM declararam-se "em obstrução". Foram seguidos pelo governista PP. No plenário da Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-S), líder do governo, disse: "Temos que aprovar [a MP dos Portos] em tempo de ela ser lida no Senado. Podemos votar à meia-noite e o Senado já ter encerrado a sua sessão. Vamos ter que correr."

Informado, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) foi ao microfone no plenário da Casa ao lado. "É uma desmoralização total e completa do Congresso Nacional", disse Jarbas, referindo-se às palavras de Chinaglia. Para Jarbas, os senadores foram reduzidos à condição de "meninos bobos, meninos buchudos", como se diz em algumas localidades do Nordeste. Em resposta, Renan disse que, para votar a MP dos Portos, pretende fazer "o que for possível, mas não o impossível."

Em privado, os próprios senadores governistas reconhecem que o Senado já flerta com o "impossível". Uma norma da Casa prevê que as medidas provisórias só podem ser votadas 48 horas depois de chegarem ao Senado. A MP dos Portos perde a validade na quinta-feira (16). Quer dizer: ainda que chegue nesta quarta, antes da meia-noite, a MP levará o Senado a rasgar seus procedimentos.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.