Sobre o óbvio, a FAB e um Legislativo distante
Foi Nelson Rodrigues quem identificou o fenômeno. Muitas vezes o sujeito esbarra, tropeça no óbvio. Pede desculpas e passa adiante, sem desconfiar de que o óbvio é o óbvio. No último final de semana, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, teve um desses encontros fortuitos com o óbvio. Fingiu que não viu. E foi adiante.
Henrique embarcou num avião da FAB com um filho, a noiva e familiares dela. Voaram de Natal para o Rio na sexta. No domingo, assistiram ao triunfo da seleção brasileira no Maracanã. Depois, embarcaram de volta para a capital potiguar. De novo, nas asas da FAB. Levado às manchetes pelo repórter Leandro Colon, Henrique reconciliou-se com o óbvio. Mandou divulgar uma nota.
"O deputado Henrique Eduardo Alves ordenou ao seu gabinete parlamentar que fizesse o imediato recolhimento aos cofres públicos dos valores correspondentes às passagens Natal-Rio-Natal, relativos à carona oferecida em avião da FAB, por disponibilidade de assentos, a familiares, dias 28 e 30 de junho", diz o texto.
Segundo a nota, Henrique "esteve no Rio cumprindo agenda previamente acertada com o prefeito da cidade, Eduardo Paes." Esse encontro teria ocorrido no sábado (29) –"uma reunião-almoço". O texto conclui: "O presidente reconhece que a concessão da carona foi um equívoco e que, por dever, imediatamente, o corrige." Estima-se que o ressarcimento será de R$ 9,7 mil.
O episódio ocorre num instante em que, submetida ao barulho que vem das ruas, a Câmara vota projetos de uma "agenda positiva". Num momento assim, o óbvio deveria ser adulado, acarinhado. Do contrário, aquele famoso prédio de Brasília –dois espigões no meio e duas cuias nas laterais— continuará parecendo o Legislativo de um país muito distante, uma democracia lá longe.
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